A base para toda boa atitude de serviço é o amor. Não se pode servir verdadeiramente sem amar. 

O amor é o sentimento-fonte de todo comportamento que leva em consideração o bem e a paz de si e do próximo. A qualidade própria de todo serviço deve ser a humildade. Não se pode servir bem sem uma sincera humildade, que consiste em colocar-se em atitude de menor diante da pessoa que consideramos alvo do nosso serviço. Ainda que ela seja uma funcionária nossa...A humildade alimenta em nós um coração de pobre, desapegado da tentação de fazer-nos proprietários da pessoa a quem servimos e do serviço que nos dispomos a prestar. 

Servir sem possuir, portanto, é a tarefa de cada dia na vida de quem busca amar desinteressadamente. Mesmo porque não somos donos de nada nem de ninguém. Não somos donos do serviço ao qual nos dedicamos nem das pessoas a quem servimos. Não somos donos nem de nós mesmos. 


Porém, não é fácil servir sem o desejo de nos fazer possuidores do bem que fazemos aos outros ou das vantagens que isto nos possa trazer ou da “fama” e dos elogios que isto nos possa proporcionar...Depois que ficamos durante um longo tempo exercendo uma determinada função ou serviço, podemos com facilidade cair na tentação de nos fazer proprietários desta função ou serviço, e decretando como este serviço deva ser feito ou considerado pelos outros, caso a gente não possa realizá-lo em algum momento. Não possa realizá-lo em algum momento porque não permitimos que este serviço ou esta função nos seja tirado(a). 

São Francisco chamava a atenção de seus frades para que não se tornassem possuidores do bem que Deus diz e opera neles e através deles. Pelo simples fato de que esta não é uma atitude adequada a quem se consagra a Deus, isto é, quem se faz pobre, totalmente entregue a Deus. O pobre, evangelicamente falando, nada tem, nada possui, de nada se apropria. Tudo é de Deus, a Ele somente convém todo louvor e toda ação de graças. 

Esta é a atitude básica também para a vida em fraternidade. O Senhor Deus nos dá irmãos e irmãs. Não os escolhemos nem somos escolhidos por eles. A eles somos chamados a expressar o nosso amor servindo. Neles somos chamados a servir a Deus mesmo. Amando e servindo a eles, amamos e servimos o próprio Deus. 

Só tendo esta ótica da fé, é que poderemos melhorar a qualidade do nosso serviço na vida em comunidade, na vida fraterna. A “qualidade total” no nosso serviço passa por aí: servindo os nossos irmãos, filhos e filhas de Deus, estamos servindo a Deus mesmo, que os colocou em nossa vida e em nosso caminho. A Deus, portanto, o melhor de nós. 

Iluminados pela fé, que é dom de Deus, podemos estar continuamente nos avaliando sobre a qualidade do nosso serviço e a minoridade com que o realizamos. Jesus é nosso modelo maior, que veio para servir e não para ser servido. Maria é nossa mãe amorosa que nos ensina que só se pode amar bem servindo, em silêncio, sem alarde, na humildade que só o verdadeiro amor sabe expressar. São Francisco é nosso irmão menor que busca servir como pobre, não se fazendo dono do bem que faz nem do amor que o move.

Autor: Frei Aluísio Alves, ofm
Cuiabá, fevereiro/2005