Ao iniciar este texto, é necessário que voltemos no tempo e olhemos para a vocação de Francisco, para a partir dela compreendermos a nossa. A história do homem de Assis nós conhecemos: seus sonhos, seus chamados, suas respostas e principalmente os lugares por onde passou. Salta-nos aos olhos os feitos daquele homem, que logo depois de sua morte foi aclamado santo e canonizado pela Santa Igreja. Mas o que Francisco tinha de tão extraordinário para promover mudanças tão radicais na maneira de ser Igreja? O que Francisco tinha de tão espetacular para se destacar tanto dentre os homens de seu tempo?

Partilho de uma reflexão de um irmão de fraternidade, Wendell Blois: “Francisco não tem nada de extraordinário dos homens de seu tempo, era um homem como qualquer outro, porém, ele fez o que os outros não faziam.” Podemos ainda destacar uma expressão do historiador frances Jacques Le Goff que nos diz: “O homem é próprio do seu tempo.” Nesse sentido vem a nossa pergunta: por que então Francisco se destacou?

Gostaria de uma comparação, a partir de uma citação bíblica, para responder tal pergunta: “Jesus assumiu em tudo a condição humana, exceto o pecado.” (cf. Hb 4,15) Francisco, por sua vez, viveu todas as intempéries e situações do seu tempo, assim como qualquer contemporâneo seu, no entanto, sua diferença foi a aceitação total da radicalidade do evangelho. Não nasceu com nenhuma estrela dourada, marcado para a santidade, mas deixou-se envolver pelo terno convite que lhe fizera o crucificado.

O que diferencia Jesus, enquanto homem, dos demais homens é a ausência do pecado em sua vida. O que diferencia Francisco dos demais homens de seu tempo é a vivência simples e radical do evangelho. Não tinha nada de incomum nele, apenas uma abertura maior à ação de Deus, diferente de que qualquer outro homem de seu tempo, com raríssimas exceções. Ele estava profundamente inserido em seu tempo e por isso sua vocação nos causa tanto impacto.

Hoje, nós, homens e mulheres, somos chamados pelo mesmo Espírito a reconstruir a Igreja. Todavia, continuamos olhando pra Francisco e ele continua parecendo um homem, que embora tenha vivido na Idade Média, parece viver ainda a frente de nosso tempo, e isso porque em nosso próprio tempo ainda não vivemos o evangelho de Cristo. É sua resposta convicta ao crucificado que ainda faz dele um sinal para nós.


Hoje somos chamados a viver a graça da fraternidade no mundo secular, como jovens, e por vezes nos consideramos limitados ou incapazes de alcançar a santidade e a perfeição evangélica tal qual Francisco. Talvez seja porque não nos consideremos tão extraordinários como ele. No nosso desejo de sermos grandes e espetaculares, perdemos o fio da história, e não respondemos com convicção a vocação de seguir Jesus Cristo, tal como Francisco.

A sua inserção no mundo atual e a convicção de viver o evangelho enquanto jovem, é o que fez de Francisco o grande santo que conhecemos. Secular ou religioso, Francisco foi antes de tudo um jovem cheio de dúvidas e desejos de se sentir fazendo a coisa certa, de servir ao Senhor certo. É na imaturidade e nas incertezas de sua juventude que se inicia o processo de conversão de um dos maiores santos da Igreja.

E não será diferente para nós e em nós. Deus também nos chama, na nossa pequenez, na nossa incerteza de jovens, a respondermos ao seu chamado evangélico. Seculares ou consagrados, nossa juventude precisa nos levar a Deus. Francisco nos aponta um caminho a percorrer, e maneiras de trilhar esse caminho. A nossa vocação franciscana hoje, nasce do chamado de Deus à santidade e do nosso desejo de percorrer esse caminho junto com Francisco de Assis.

Sejamos, pois, também homens e mulheres próprios de nosso tempo, de nossa juventude, e principalmente sedentos de Deus. O resto deixemos por conta do Espírito Santo.

Mateus Garcia
Secretário Regional - Sudeste 3 (SP)