Evangelho de Lucas 3,15-16.21-22
Terminado o “tempo natalino”, começa o “tempo comum”, a vida pública de Jesus, sua missão como Filho em favor dos filhos. O relato do batismo narrado por Lucas faz referência a uma experiência muito importante na vida de Jesus e na vida daqueles que estavam ao seu redor.
Vamos nos deter na descrição realizada neste relato. Lucas narra que o povo estava aguardando o Messias e eles até se perguntavam se esse Messias tão esperando não seria João. A primeira apresentação de João é esclarecer que ele não é o Messias.
Ele esclarece que a simplicidade do batismo que está levando adiante orienta as expectativas do povo para um novo batismo que será dado por “alguém mais forte que eu”. Chama nossa atenção a humildade de João que não se identifica com o Messias esperado.
Pelo contrário, ele revela a simpleza de seu batismo e a grandeza de outro batismo que será com “espirito santo e com fogo” para quem ele não é digno “nem sequer de desamarrar a correia das sandálias”.
O batismo de Jesus acontece “depois que todo o povo foi batizado”. João Batista leva sua missão pacientemente, conhecendo que em face de dignidade do Messias ele é um humilde servidor. Neste momento podemos nos perguntar quantas vezes nós, servidores e servidoras do Evangelho, tentamos ocupar o espaço do Messias porque não sabemos valorizar a profundeza de nossa missão.
Assim falou em fevereiro do ano passado o Papa Bento XVI aos párocos de sua diocese num discurso improvisado: “Os cristãos estão divididos porque falta humildade. A soberba é arrogância. É a raiz de todos os pecados, a busca do poder, aparecer aos olhos dos outros, não se preocupar em agradar a si mesmo e a Deus. Ser cristão significa superar essa tentação”. (Cf. Papa aos párocos: ''Chega de carreirismo'')
Depois que Jesus foi batizado, o relato nos narra bastante detalhadamente uma profunda experiência espiritual acontecida nele. A descida de Jesus para o Jordão pode simbolizar a “descida nas águas da humanidade”, onde todo o povo mergulhava e procurava liberdade.
Por isso precisamos, como Jesus, “descer ao rio Jordão”, tomar contato com as necessidades das pessoas, de nosso povo, solidarizarmos com seu sofrimento, escutar seus clamores de libertação.
“Depois de batizado, estava rezando”. Imaginemos o que significaria para Jesus o fato de ser batizado, de participar humildemente com todo o povo desse acontecimento, como era o batismo que recolhe uma grande expectativa do povo. Eles não sabiam quem estava tão perto deles.
O Céu se faz presente na terra deixando ouvir sua voz. Como disse Jean Vanier ''Jesus se revela nas nossas fraquezas''.
Sob o impulso do Espírito Jesus se dedica a libertar a vida, a curá-la e a fazê-la mais humana.
Como é nossa capacidade para escutar a voz do Pai que se revela nos seguidores de Jesus que estão ao nosso lado? Vamos atrás do Mestre e tomamos o lado dos mais fracos, daqueles que não são ouvidos?
Como Jesus, somos capazes de descobrir novos rostos, novas histórias e deixarmos banhar por essa realidade carente de horizontes e de sentido? Como diz Francisco Orofino, “o caminho de nossa divinização exige de nossa parte a mais profunda humanização”.
Não podemos ser insensíveis ao que acontece ao nosso redor. Neste Natal, celebramos que Deus se fez homem para que todos/as vivam a dignidade de ser seus filhos/as, participando de sua Vida já nesta terra.
Que este amor universal de Deus, que habita em nossos corações, nos ajude a quebrar nossas “prisões” interiores que nos fecham aos nossos irmãos e irmãs. E assim também nos iniciemos ao caminho ao Jordão, ao encontro deste mundo que geme dores de parto impulsionados pela força do Espírito.

Oração

Façamos deste poema nossa oração neste dia tão especial, para assim sermos renovados/as no nosso serviço aos nossos irmãos/ãs, especialmente os mais pobres.
Batiza meus sentidos / Não amanheças, Senhor,/ que ainda meus olhos / não aprenderam a ver-te / no meio da noite.
Não me fales, Senhor, / que ainda meus ouvidos / não logram te escutar / nos barulhos da vida.
Não me abraces, Senhor, / que ainda meu corpo / não percebe tua pele / nos abraços e na brisa.
Não me adociques Senhor,/ que ainda minha garganta / não saboreia tua ternura,
no meio do amargo.
Não me perfumes, Senhor, / que ainda meu olfato / não cheira tua presença / no meio da miséria.
Batiza meus sentidos / com o lento decorrer / de tua graça encarnada, / fluindo por meu corpo.

                                                                                                                                                      Benjamin Gonzalez Buelta, sj.

Referências
KONINGS, Johan. Espírito e mensagem da liturgia dominical. Porto Alegre: Escola Superior de Teologia São Lourenço de Brindis, 1981.
REVISTA IHU ON-LINE. Entrevista a Francisco Orofino. Ano VII, n. 336, 06/07/2010. Disponível em: http://migre.me/cIuoB.
Papa aos párocos: ''Chega de carreirismo''. Noticias do IHU no dia 25/02/2012. Disponível em: http://migre.me/cIKtw
Fonte: http://www.ihu.unisinos.br/espiritualidade/comentario-evangelho/516820-festa-do-batismo-de-jesus-evangelho-de-lucas-315-1621-22 em 08/01/15