São Luís da França é o Patrono da Ordem Franciscana Secular e com certeza um dos santos leigos mais famosos. É tomado como exemplo de governante cristão, cujo zelo pela justiça especialmente com os mais pobres se destacava. Nascido em Poissy, próximo a Paris, foi batizado como Luís, quarto filho do rei Felipe Augusto. Em 1226, por ocasião da morte do pai, e sendo o herdeiro do trono por direito já que seus irmãos mais velhos haviam falecido, foi coroado na catedral de Reims e sua mãe Branca de Castela foi sua regente até que atingisse a maioridade.
Durante seu reinado a França prosperou e conheceu um período de paz conquistada pela força, mas também por diversos tratados. Ele nomeava juízes para resolver as questões solicitadas pelo povo e também enviava juízes extraordinários para avaliar o trabalho e a honestidade dos juízes. Assim, aqueles que agiam corretamente eram premiados e os que agiam de má fé eram punidos. Ele mesmo se fazia juiz como representado na célebre cena em que ouvia o povo embaixo de um carvalho no jardim de Vincennes, após a missa.
Por ser uma figura pública, São Luís é muito lembrado por seus feitos como rei da França um exemplo de rei cristianíssimo (como era o título que ostentava), mas não é apenas esse aspecto que deve ser valorizado, pois o marido de Margarida de Provença e pai de 11 filhos com ela sempre prezou pela família cristã. Educou os filhos na Igreja não apenas com palavras, pois ele apesar da vida atarefada de rei fazia questão de vivenciar a liturgia das horas e após as completas costumava contar história da vida de santos e de grandes governantes. Essa figura de pai amoroso e preocupado em repassar os princípios cristãos está no testamento que São Luís deixou para seu filho e futuro rei Filipe III:
“Filho dileto, começo por querer ensinar-te a amar o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com todas as tuas forças; pois sem isto não há salvação.
Filho, deves evitar tudo quanto sabes desagradar a Deus, quer dizer, todo pecado mortal, de tal forma que prefiras ser atormentado por toda sorte de martírios a cometer um pecado mortal.
Ademais, se o Senhor permitir que te advenha alguma tribulação, deves suportá-la com serenidade e ação de graças. Considera suceder tal coisa em teu proveito e que talvez a tenhas merecido. Além disto, se o Senhor te conceder a prosperidade, tens de agradecer-lhe humildemente, tomando cuidado para que nesta circunstância não te tornes pior, por vanglória ou outro modo qualquer, porque não deves ir contra Deus ou ofendê-lo valendo-te dos seus dons.
Ouve com boa disposição e piedade o ofício da Igreja e enquanto estiveres no templo, cuides de não vagueares os olhos ao redor, de não falar sem necessidade; mas roga ao Senhor devotamente, quer pelos lábios, quer pela meditação do coração.
Guarda o coração compassivo para com os pobres, infelizes e aflitos, e quando puderes, auxilia-os e consola-os. Por busca todos os benefícios que te foram dados por Deus, rende-lhe graças para te tornares digno de receber maiores. Em relação a teus súditos, sê justo até o extremo da justiça, sem te desviares nem para a direita nem para a esquerda; põe-te sempre de preferência da parte do pobre mais do que do rico, até estares bem certo da verdade. Procura com empenho que todos os teus súditos sejam protegidos pela justiça e pela paz, principalmente as pessoas eclesiásticas e religiosas.
Sê dedicado e obediente à nossa mãe, a Igreja Romana, ao Sumo Pontífice como pai espiritual. Esforça-te por remover de teu país todo pecado, sobretudo o de blasfêmia e a heresia.
Ó filho muito amado, dou-te enfim toda a benção que um pai pode dar ao filho; e toda a Trindade e todos os santos te guardem do mal. Que o Senhor te conceda a graça de fazer sua vontade de forma a ser servido e honrado por ti. E assim, depois desta vida, iremos juntos vê-lo, amá-lo e louvá-lo sem fim. Amém.”.
Sua religiosidade vivida desde o interior transparecia em suas decisões de soberano francês. Foi ele que mandou construir a Saint-Chapelle para receber a coroa de espinhos e um pedaço da cruz de Cristo que fez questão de adquirir de Constantinopla. Esse ato demonstrava não apenas um zelo pelas relíquias da cristandade, mas foi também uma maneira de reafirmar o papel da França como centro do Cristianismo na época. É claro que nem todos os súditos gostavam desses atos, isso levou São Luís a ser conhecido como Rei Mendicante por causa de sua proximidade com os movimentos mendicantes, especialmente os dominicanos e franciscanos.
            É claro que um rei tão religioso como Luís IX não deixaria de se envolver nas cruzadas. De fato organizou as sétima e oitava cruzadas, tendo morrido nesta última. Após sua morte em 25 de Agosto de 1270, o povo que já o declarava santo em vida fazia agora peregrinações ao seu túmulo. E não tardou para ser canonizado em 1297 pelo papa Bonifácio VIII.
            Apesar de não haver provas de uma profissão de São Luís na então chamada Ordem Terceira de São Francisco, até porque era muito comum nos franciscanos seculares da época, associa-se o Santo à OFS por ter sido um franciscano secular de fato. Como reconhecimento dessa pertença verdadeira ao franciscanismo, surgiram pinturas que o retratavam com o cordão franciscano e foi escolhido como patrono da OFS.

                                                                                            Elvis Néris de Medeiros
                                                                Secretário Regional de Formação / Nordeste A3 (RN/PB)


Referências:
Livre des saintes paroles et des bons faiz nostre roy saint Looys, Jehans de Joinville (em francês)

São Luís de França e os Franciscanos, Frei Sandro Roberto da Costa, OFM, disponível em: http://www.franciscanos.org.br/?p=71440


Testamento de São Luís, Rei da França, a seu filho. Disponível em: http://cleofas.com.br/testamento-de-sao-luiz-rei-da-franca-a-seu-filho-2/