“Desaparecendo, pois, o anjo, deixou no coração de São Francisco um ardor excessivo e flama do de amor divino, e em sua carne uma imagem maravilhosa e os vestígios da Paixão de Cristo”. (CCE 3,53)

É chegada a época de fazermos memória sobre um evento marcante para o franciscanismo: a estigamatização do Pai Seráfico. Este é um marco não apenas para a biografia de São Francisco, mas que revolucionou o próprio cristinanismo. De sua época e atualmente.
Revisitando as fontes para a escrita dessa breve reflexão, percebi o quão inquientante ainda são esses estigmas não apenas para aqueles e aquelas que fizeram sua opção pessoal pelo seguimento de Cristo pelos passos de Francisco, mas para toda Igreja Cristã, ouso dizer, Igrejas, não limitando somente a Apostólica Romana, mas todas aquelas que professam a fé no Cristo Pobre e Libertador, que tinha lado, que tinha opção e que morreu e teve seu corpo marcado pela tortura por ousar se levantar contra os poderosos de sua época.
O Cristo de Francisco, o Cristo que tanto nosso Pai se esforçou por imitar e não por vaidade ou masoquismo pedia para sentir as dores e as chagas de sua Crucifixão, mas por profundo Amor e empatia. Francisco entendeu que a morte de Jesus não foi em vão e não somente para a Salvação pessoal de cada um/a que o professa.
As chagas representam, e Francisco entendeu muito bem isso à sua época, um compromisso de Jesus para a humanidade de Liberdade. Esta requer obrigação de todos os cristãos e cristãs. Ninguém será plenamente livre enquanto houverem escravos/escravas. A minha liberdade perpassa pela plena liberdade do outro/outra, mas para essa Liberdade ser conquistada muitas chagas ainda serão experimentadas. Francisco deu-se conta disso e ao invés de fugir ou esconder-se, teve a plena coragem de correr ao encontro do Amado e pedir a Graça de, mesmo indigno e pequeno, imitar Cristo nesse profundo amor ao outro e à outra.
Com isso, Nosso Pai quer nos mostrar o verdadeiro sentido do sofrimento de Cristo na Cruz. Não a reduzamos à pieguices, não deixemos que nossa pequenez turve nosso olhar para algo que é grandioso e profundo. Tão intenso que Francisco entra em êxtase ao fazer essa experiência, mas não o transe inconsciente que atualmente estão cegando muitos/as fiéis, mas a plena convicção do que representa o seguimento do Evangelho: “Uma espiritualidade de ação e de engajamento social na construção positiva dos valores da Terra dos Homens, sob o anúncio profético e revolucionário de um humanismo cristão, na dinâmica do Advento de um Novo Céu e de uma Nova Terra na clareira do Evangelho.” (Fontes Franciscanas, p.822)[1]
Dessa maneira, é impossível desvincular as Chagas corporais dos estigmas espirituais, Francisco apenas as sentiu em sua carne depois de deixar-se ferir  primeiramente em sua alma. Ao fazer-se sensível ao sofrimento do próximo/a, Francisco se aproxima dos estigmas de Jesus que carregava consigo todas as dores do povo injustiçado e sofrido do seu tempo.
Enquanto escrevo, é impossivel não lembrar das chagas que hoje insistimos em marcar o Corpo de Cristo: o extermínio dos indígenas, o encarceramento e extermínio da juventude negra e periférica, os diversos tipos de feminícidio, os assassinatos por LGBTFobias, a perseguição e preconceitos religiosos, a perda de direitos sociais e individuais, a corrupção, dentre outros. Continuamos chagando o Corpo Daquele que dizemos amar.
Francisco, com seu exemplo, nos pede para abraçarmos esses/as que sofrem com essas chagas e, por Amor, fazê-las nossas também, a fim de juntas e juntos poder fazer, verdadeiramente, a experiência de Jesus. Para isso, precisamos viver uma fé madura e consciente como ele. Não nos esqueçamos que a experiência da Cruz não se encerra na morte, mas na ressurreição. Ainda há esperanças!
Que Francisco possa sempre nos trazer novamente Cristo, em sua dor e em seu Amor! Amém, Axé, Awere, Aleluia!


Hannah Jook Otaviano
Secretária de Formação Jufra Regional NEA2/ CEPI