extraído de: http://www.falachico.org/2021/03/sao-oscar-romero-seu-assassinato-ainda.html e https://franciscanos.org.br/vidacrista/calendario/santo-oscar-romero/#gsc.tab=0

Dom Romero (1917-1980) é um dos arcebispos mais importantes da história da Igreja na América Latina e no mundo. Foi assassinado, em 24 de março de 1980, data que hoje fazemos lembrança, por um esquadrão da morte, durante a consagração eucarística. Em seu trabalho pastoral expressava publicamente sua solidariedade para com as vítimas da violência política em El Salvador. Em suas homilias dominicais denunciava inúmeras violações dos direitos humanos e assassinatos por parte do governo militar. Em 14 de outubro de 2018, na Praça San Pedro, Dom Oscar Romero passou a se tornar o São Romero, “Mártir da América Latina”, como é conhecido pelo povo. A missa foi presidida pelo Papa Francisco.


O SANTO: PASTOR E MÁRTIR, DEFENSOR DOS DIREITOS HUMANOS

Oscar Arnulfo Romero Y Gadamez nasceu em 15 de agosto de 1917, em Ciudad Barrios, em El Salvador. Foi o quarto arcebispo metropolitano de San Salvador (1977-1980). Defensor da “opção preferencial pelos pobres”. A dura realidade de El Salvador,  o assassinato de camponeses e vários padres. levaram Romero a uma ação cada vez mais profética em defesa dos direitos humanos. Dentre eles o assassinato do jesuíta, Padre Rutilo, que era responsável pela paróquia de Aguilares, onde promoveu a criação de comunidades eclesiais de base e a organização dos camponeses da região. O próprio Presidente da República informou Romero sobre a morte de Grande, prometendo uma investigação dos fatos. O arcebispo reagiu a este assassinato convocando uma missa única para mostrar a unidade de seu clero. Esta missa foi celebrada em 20 de março na Plaza Barrios de San Salvador, apesar da oposição do núncio apostólico e de outros bispos.


Ainda em 1977, em uma de suas homilias, Romero afirmou: "A missão da Igreja é identificar-se com os pobres, para que a Igreja encontre a sua salvação".


Era uma segunda-feira, 24 de março de 1980, quando uma bala atingiu o coração de Dom Óscar Arnulfo Romero, justamente durante a consagração eucarística. No altar ele ofereceu pão e vinho, bem como a própria vida. Na capela do Hospital La Divina Providencia, local do assassinato, ainda ecoam suas palavras com as quais pedia aos militares que não matassem seus irmãos camponeses. No dia anterior, Romero concluiu deste modo a homilia: “Em nome de Deus, pois, e em nome deste sofrido povo cujos lamentos sobem até o céu cada dia mais agitados, suplico-lhes, rogo-lhes, ordeno-lhes em nome de Deus: Parem a repressão!”.


A Assembleia Geral das Nações Unidas, em 2010, proclamou o dia 24 de março como o Dia Internacional pelo Direito à Verdade acerca das Graves Violações dos Direitos Humanos e à Dignidade das Vítimas em reconhecimento à atuação de Dom Romero em defesa dos direitos humanos.


IMPUNIDADE

Em 1993, uma Comissão da Verdade das Nações Unidas apontou o falecido Major do Exército Roberto D'Aubuisson, treinado na Escola das Américas, nos EUA e fundador da então governante Aliança Nacionalista Republicana (ARENA) como o mentor do crime. Outro mentor apontado foi Mario Molina, filho do ex-presidente e general Arturo Molina. O assassinato desencadeou uma guerra civil que em doze anos deixou 75.000 mortos, mais de 7.000 desaparecidos e milhões em perdas econômicas.


Segundo reportagem da Deutsche Welle (DW), o escritório da associação de direitos humanos Tutela Legal María Julia Hernández, denuncia que o assassinato continua, impune. A ONG Tutela questiona a morosidade da Procuradoria Geral da República (FGR) de El Salvador.

“Nossa demanda depois de 41 anos (após o crime) é que cesse a impunidade, que o caso seja investigado”, declarou em entrevista coletiva o advogado Alejandro Díaz, do escritório da associação de direitos humanos Tutela Legal María Julia Hernández."

Nessa reportagem ainda se lê que:  

“A Tutela Legal solicitou a reabertura do processo em março de 2017, após a revogação de uma lei de anistia que acobertava os responsáveis por crimes durante a guerra civil (1980-1992)”.

"Em 2019, esta entidade apresentou uma lista de supostos envolvidos. Mas, segundo Díaz, o caso ficou paralisado apenas com o capitão aposentado Álvaro Saravia, único réu. O militar é procurado pela Interpol desde 23 de outubro de 2018, sem sucesso.

"Saravia, tenente do principal implicado, o falecido major Roberto D'Aubuisson, confessou anos atrás ao jornal digital El Faro como o assassinato de Romero foi planejado e executado.

“Consideramos que existem obstáculos gravíssimos para que o caso avance, principalmente na morosidade da Procuradoria-Geral da República e de outras instituições para processar (...) e punir os autores intelectuais e materiais neste caso”, denunciou Díaz.

"Quatro anos após a reabertura do processo, o Ministério Público deveria ter "uma equipe de promotores de direitos humanos" para examinar o assunto, disse Ovidio González, outro advogado da Tutela Legal.”

 

Dom Oscar Romero nas palavras do Papa Francisco:

“O mundo mudou muito desde aquele longínquo 1980, mas o pastor de um pequeno país da América Central fala mais forte. Não deixa de ser significativo que sua beatificação tenha lugar enquanto na cátedra de Pedro está, pela primeira vez na história, um papa latino-americano, que quer uma 
‘Igreja pobre para os pobres’.”

Dom Oscar Romero nas palavras do amigo Dom Pedro Casaldáliga, bispo da Prelazia de São Félix do Araguaia:

SÃO ROMERO DE AMÉRICA PASTOR E MÁRTIR

O anjo do Senhor anunciou na véspera…
O coração de El Salvador marcava
24 de março e de agonia

Tu ofertavas o Pão,
O Corpo Vivo
– o triturado Corpo de teu Povo:
Seu derramado Sangue vitoriosa
– O sangue “campesino” de teu Povo em massacre
que há de tingir em vinhos e alegria a Aurora conjurada!

O anjo do Senhor anunciou na véspera
e o verbo se fez morte, outra vez, em tua morte.
Como se faz morte, cada dia, na carne desnuda de teu Povo.

E se fez vida Nova
Em nossa velha Igreja!
Estamos outra vez em pé de Testemunho,
São Romero de América, pastor e mártir nosso!
Romero de uma Paz quase impossível, nesta Terra em guerra.
Romero em roxa flor morada da Esperança incólume de todo Continente
Romero desta Páscoa latino-americana.

Pobre pastor glorioso,
assassinado a soldo,
a dólar
a divisa.
Como Jesus, por ordem de Império.
Pobre pastor glorioso,
abandonado
por teus próprios irmãos de Báculo e de Mesa.
(As Cúrias não podiam entender-te:
Nenhuma Sinagoga bem montada pode entender a Cristo)

Tua pobreza sim te acompanha,
em desespero fiel,
pastor e rebanho, a um tempo, de tua missão profética.
O Povo te fez santo.
A hora do teu Povo te consagrou no “Kairós”.
Os Pobres te ensinaram a ler o Evangelho.

Como um Irmão
ferido
por tanta morte irmã,
tu sabias chorar, a sós, no Horto.
Sabias ter medo, como um homem em combate.
Porém sabias dar a tua palavra,
livre,
o seu timbre de sino.
E soubeste beber
O duplo cálice
do Altar e do Povo
com essa mesma mão consagrada ao Serviço.
América Latina já te elevou à glória de Bernini
– na espuma-auréola de seus mares,
no retábulo antigo de seus Andes,
no dossel irado de todas suas florestas,
na cantiga de todos seus caminhos,
no calvário novo de todos os seus cárceres,
de todas suas trincheiras
de todos seus altares…
na ara garantida do coração insone de seus filhos!
São Romero de América, pastor e mártir nosso,
ninguém
há de calar
tua última homilia!

São Oscar Romero da América, rogai por nós!