Para os irmãos chamados anteriormente de penitentes, hoje chamados seculares, inicia-se um tempo privilegiado de vivência do carisma que abraçamos. Ao fim da festa da carne, começa então um tempo de rever a própria vida, renovando a fé e a esperança, para celebrar dignamente a “ressurreição da carne” do Redentor. Na oportunidade desta quarta-feira de cinzas, somos marcados na fronte com um símbolo, que lembra-nos que “do pó viemos e para o voltaremos” (cf. Gn 3,19).
   Francisco de Assis usou repetidas vezes as cinzas em sua penitência, hora para lembrá-lo de onde veio (cf. 1Cel 110,3) ou também para temperar a comida, a fim de tirar o prazer dos sabores da refeição (cf. LM 5,4). As cinzas foram usadas também pela Igreja, como sinal visível de penitência, aos que fossem indicadas penitências públicas. Era também um sinal de que aquela pessoa estava arrependida dos pecados.
   O uso das cinzas remonta ao Antigo Testamento e, ao longo da história de toda a Igreja, seu uso sempre foi recorrente. Ao celebrarmos a quarta feira de cinzas, somos convidados a nos lembrar de tudo que as cinzas significam para nós cristãos. Símbolo de penitência e de nossa pequenez diante de Deus. Do quanto fomos queimados pelos nossos vícios e colocamos então diante de Deus o nosso nada ou o pó de nós mesmos, e n’Ele buscamos as forças e graças necessárias para vencer as tentações não só quaresmais, mas que nos assolam todos os dias.
   A penitência que optamos por fazer durante a quaresma, ou que nos foram prescritas pelo nosso confessor, tem ponto de partida nas cinzas que celebramos na quarta. Precisamos olhar com fé e coragem para o desafio que nos é dado, quando participamos desta celebração. Não é simplesmente um ato simbólico que lembra fatos do passado, ou um simbolismo vazio de sentido. É uma imposição de pó e de responsabilidade. Como foi para Francisco, para lembrar o que é e de onde veio; para tirar o sabor dos alimentos, deve nos alertar no mesmo rumo à nossa conversão constante, e de nosso arrependimento. É vazio participar da imposição das cinzas sem celebrar e se submeter aos encargos e desafios que ela nos propõe. 
   O papa Francisco na JMJ Rio 2013 disse a nós jovens que não tivéssemos medo de nadar contra a corrente e que deveríamos ser revolucionários. Nossa revolução hoje é não ter medo de assumir  nossa fé, de nos reconhecermos tão pequenos e tão dependentes de Deus. Num mundo onde cada um deseja ser um ser independente de tudo e de todos, revolucionemos, tenhamos à nossa frente a nossa dependência de Deus, confiemos nele. Aproveitando das cinzas da quarta, aprofundemos nossa penitência e nossa conversão a Deus.  

                                                                                            Mateus Garcia
                                                                                 Secretário Fraterno Regional / Sudeste 3