Ninguém na Índia acha estranho ver fotos de Madre Teresa nas casas do povo. Não importa a religião. Sejam hindus ou muçulmanos, cristãos ou siks, parsis ou budistas, em todo o país são muitos. Ricos e pobres são orgulhosos de exibir retratos de Madre Teresa. Ela não tem lugar só nas casas. Abriu uma brecha nos corações de milhões de indianos.

Quando era viva e ia às mais de 225 casas de sua congregação na Índia, pessoas de toda condição social acorriam para o darshan, isto é, a visão de uma pessoa santa. Milhões de pessoas o fizeram. Graças à maciça cobertura que imprensa e TV reservam até hoje a Madre Teresa, seis anos depois de sua partida, as conversas entre amigos, freqüentemente, acabam falando dela. Quando conto as várias ocasiões em que a encontrei, os meus interlocutores arregalam os olhos, olhando-me com admiração e temor reverencial.


INDIANA ENTRE OS INDIANOS
Madre Teresa chegou à Índia com 18 anos, em janeiro de 1929. Aqui percorreu o itinerário completo de formação à vida religiosa na congregação das Irmãs de Loreto. Na Índia também se preparou para ser professora. Justamente durante este complexo processo formativo e o sucessivo trabalho de professora e diretora da Loreto Convent School de Calcutá, ir. Teresa tornou-se plenamente indiana. No Estado do Bengala Ocidental e em toda a Índia, todo mundo a acolheu e considerou como indiana. Não só o povo simples das ruas, mas também os poderosos e os de alta condição financeira. Ela expressou sua "indianidade" de várias maneiras, até no hábito e no estilo de vida simples e sóbrio.

Sua profunda inserção na sociedade indiana tornou-se ainda mais manifesta em 1948, com seu ingresso na favela de Calcutá, e culminou com a cidadania indiana em 1962. O povo de Calcutá antes, e o de toda Índia depois, acolheu Madre Teresa como sua. Essa aceitação se manifestou na cooperação e no apoio que recebeu antes de se tornar famosa e seu serviço se estendesse em muitas áreas da Índia e do mundo inteiro. O impacto e o influxo exercidos por Madre Teresa sobre a sociedade indiana aparecem evidentes no número de ruas, lugares, bairros que lhe são dedicados.

Outro significativo testemunho está na outorga à Madre Teresa, em 1980, da mais alta condecoração civil indiana: o Bharat Ratna. Mas os prêmios e as condecorações foram muitos e todos conferidos pelas mais diferentes personalidades e instituições. As duas companhias aéreas nacionais, Indian Airlines e Air India, manifestavam seu apreço pela obra da Madre, doando-lhe passagens gratuitas para voar na Índia ou ao exterior. O mesmo vale para as Ferrovias indianas, que permitiam a Madre Teresa e a suas irmãs viajar gratuitamente.

No último período da doença que levou a Madre à morte, a cobertura fornecida pela mídia foi surpreendente. Era o reflexo das orações espontâneas e coletivas pela sua cura, que se converteram em expressões de luto pela morte. Manifestações que, pela extensão, não tiveram iguais em toda a história da Índia. Em muitos lugares do país, foram organizados momentos inter-religiosos de oração para recordá-la.
OPOSIÇÃO
Devemos afirmar, porém, que tampouco para Madre Teresa tudo foi fácil. Também na Índia teve que lutar contra muitos gêneros de oposição e antagonismo. O atual primeiro ministro indiano Atal Bihari Vajpayee, na época, forte membro da oposição parlamentar, definiu Madre Teresa como "uma católica kattarpanthi", isto é, fundamentalista. A definição, pronunciada durante uma entrevista na TV indiana, foi retomada pelo diário Delhi Midday de 20 de setembro de 1994. Outro ataque contra Madre Teresa, do jornalista e escritor inglês Christopher Hitchens, que acusava a religiosa de fazer mais mal do que bem, teve vasto eco na mídia da Índia.

Madre Teresa passava do atendimento aos pobres ao testemunho em defesa da vida. No dia 30 de agosto de 1999, o popular semanário Outlook publicava uma entrevista a Hitchens, que chegava a afirmar: "Madre Teresa estava a serviço dos ricos e dos corruptos, enquanto aos pobres pregava resignação e obediência". Tal como Hitchens, um homem de esquerda, Tariq Ali, foi um crítico muito determinado de Madre Teresa.

O documentário O anjo do inferno, escrito por Hitchens e produzido por Tariq Ali, forneceu ampla publicidade aos dois e a suas acusações. Porém, a ampla maioria dos indianos ignorou essas críticas malignas, deixando, ao invés, que a consideração e o amor por Madre Teresa continuassem a crescer. A prova maior, quase um milagre, da influência que Madre Teresa exerceu sobre a consciência do povo indiano é o impressionante incremento numérico de sua congregação.

Quando Madre Teresa morreu, The Times of Índia preanunciou, no editorial de 8 de setembro de 1997, que a irmã teria se tornado "um ícone do final do vigésimo século". Para os indianos, ela já é um ícone de amor e compaixão, especialmente para os mais pobres dos pobres.

Autor: Paul Varghese.
Disponível em: http://www.pime.org.br/mundoemissao/testemunhosteresa.htm