Tempo do Advento
Sthefânia Pires
Subsecretária Regional de Formação
Regional Sudeste 1(MG)
Receber
uma visita é uma arte que uma dona de casa exercita com frequência. E quando o
visitante é ilustre, os preparativos são mais exigentes. Imagine que você fosse
receber uma ilustre visita em sua casa. Certamente, durante alguns dias, tudo
no lar da família se voltaria para a preparação de tão honrosa visita. A
seleção do cardápio, para o almoço, o que melhorar na decoração do lar, que
roupas usar nessa ocasião única. Na véspera, uma arrumação geral na casa seria
de praxe, de modo a ficar tudo eximiamente ordenado, na expectativa do grande
dia.
Essa
preparação que normalmente se faz, na vida social, para receber um visitante de
importância, também é conveniente fazer-se no campo sobrenatural. É o que
ocorre, no ciclo litúrgico, em relação às grandes festividades, como por
exemplo, o Natal. A Santa Igreja, em sua sabedoria multissecular, instituiu um
período de preparação, com a finalidade de compenetrar todas as almas cristãs
da importância desse acontecimento e proporcionar-lhes os meios de se
purificarem para celebrar essa solenidade dignamente. Esse período é chamado de
Advento.
O
advento inicia-se com as vésperas do domingo mais próximo aos 30 de novembro e
termina antes das vésperas do Natal. Os domingos deste tempo se chamam 1º, 2º,
3º, e 4º do Advento. Os dias 16 a 24 de dezembro (Novena de Natal) tendem a
preparar mais especificamente as festas do Natal.
O
tempo do Advento tem uma duração de quatro semanas. Este ano, começa no domingo
01 de dezembro, e se prolonga até a tarde do dia 24 de dezembro, em que começa
propriamente o Tempo de Natal. Podemos distinguir dois períodos.
No
primeiro deles, que se estende desde o primeiro domingo do Advento até o dia 16
de dezembro, aparece com maior relevo o aspecto escatológico e nos é orientado
à espera da vinda gloriosa de Cristo. As leituras da Missa convidam a viver a
esperança na vinda do Senhor em todos os seus aspectos: sua vinda ao fim dos
tempos, sua vinda agora, cada dia, e sua vinda há dois mil anos.
No
segundo período, que abarca desde 17 até 24 de dezembro, inclusive, se orienta
mais diretamente à preparação do Natal. Somos convidados a viver com mais
alegria, porque estamos próximos do cumprimento do que Deus prometera. Os
evangelhos destes dias nos preparam diretamente para o nascimento de Jesus. Com
a intenção de fazer sensível esta dupla preparação de espera, a liturgia
suprime durante o Advento uma série de elementos festivos.
Desta
forma, na Missa já não rezamos o Glória. Se reduz a música com instrumentos, os
enfeites festivos, as vestes são de cor roxa, o decorado da Igreja é mais
sóbrio, etc. Todas estas coisas são uma maneira de expressar tangivelmente que,
enquanto dura nosso peregrinar, nos falta alo para que nosso gozo seja
completo. E quem espera, é porque lhe falta algo. Quando o Senhor se fizer
presente no meio do seu povo, haverá chegado a Igreja à sua festa completa,
significada pela Solenidade do Natal.
Temos
quatro semanas nas quais de domingo a domingo vamos nos preparando para a vinda
do Senhor.
A primeira das semanas do Advento está
centralizada na vinda do Senhor ao final dos tempos. A liturgia nos convida a
estar em vela, mantendo uma especial atitude de conversão.
A
segunda semana nos convida, por meio do Batista a “preparar os caminhos do
Senhor”; isso é, a manter uma atitude de permanente conversão. Jesus segue
chamando-nos, pois a conversão é um caminho que se percorre durante toda a
vida.
A
terceira semana preanuncia já a alegria messiânica, pois já está cada vez mais
próximo o dia da vinda do Senhor.
Finalmente,
a quarta semana nos fala do advento do Filho de Deus ao mundo. Maria é figura
central, e sua espera é modelo e estímulo da nossa espera. Quanto às leituras
das Missas dominicais, as primeiras leituras são tomadas de Isaías e dos demais
profetas que anunciam a Reconciliação de Deus e, a vinda do Messias.
Nos
três primeiros domingos se recolhem as grandes esperanças de Israel e no
quarto, as promessas mais diretas do nascimento de Deus. Os salmos
responsoriais cantam a salvação de Deus que vem; são orações pedindo sua vinda
e sua graça. As segundas leituras são textos de São Paulo ou das demais cartas
apostólicas, que exortam a viver em espera da vinda do Senhor.
A
cor dos paramentos do altar e as vestes do padre é o roxo, igual à da Quaresma,
que simboliza austeridade e penitência. Temos também a Coroa do Advento.
Durante
as quatro semanas do advento, uma vela é colocada na coroa simbolizando cada
uma das quatro semanas. No início a Coroa está sem luz, sem brilho, sem vida:
ela lembra a experiência de escuridão do pecado. À medida que nos aproximamos
do Natal, a cada semana do Advento, uma nova vela vai sendo acesa,
representando a aproximação da chegada até nós Daquele que é a Luz do mundo,
Nosso Senhor Jesus Cristo. Ele é quem dissipa toda escuridão, é quem traz aos
nossos corações a reconciliação tão esperada entre nós e Deus e, por amor a
Ele, a "paz na Terra entre os homens de boa vontade". (Lc 2,14).
Com
esse tempo de preparação, a Igreja quer nos ensinar que a vida neste vale de
lágrimas é um imenso advento e, se vivermos bem, isto é, de acordo com a Lei de
Deus, Jesus Cristo será nossa recompensa e nos reservará no Céu um belo lugar,
como está escrito: "Coisas que os olhos não viram, nem os ouvidos ouviram,
nem o coração humano imaginou, tais são os bens que Deus tem preparado para
aqueles que O amam" (1Cor 2, 9).
São
quatro os temas que se apresentam durante o Advento:
I
Domingo: A vigilância na espera da vinda do Senhor.
Durante
esta primeira semana as leituras bíblicas e a prédica são um convite com as
palavras do Evangelho: “Velem e estejam preparados, pois não sabem quando
chegará o momento”. É importante que, como uma família, tenhamos um propósito
que nos permita avançar no caminho ao Natal; por exemplo, revisando nossas
relações familiares.
Como
resultado deveremos buscar o perdão de quem ofendemos e dá-lo a quem nos tem
ofendido para começar o Advento vivendo em um ambiente de harmonia e amor
familiar. Desde então, isto deverá ser extensivo também aos demais grupos de
pessoas com as quais nos relacionamos diariamente, como o colégio, o trabalho,
os vizinhos, etc.
Esta
semana, em família da mesma forma que em cada comunidade paroquial, acenderemos
a primeira vela da Coroa do Advento, de cor roxa, como sinal de vigilância e
desejo de conversão.
II
Domingo: A conversão, caráter predominante da pregação de João Batista.
Durante
a segunda semana, a liturgia nos convida a refletir com a exortação do profeta
João Batista: “Preparem o caminho, Jesus chega”. Qual poderia ser a melhor
maneira de preparar esse caminho que busca a reconciliação com Deus? Na semana
anterior nos reconciliamos com as pessoas que nos rodeiam; como seguinte passo,
a Igreja nos convida a acudir ao Sacramento da Reconciliação (Confissão) que
nos devolve a amizade com Deus que havíamos perdido pelo pecado. Acenderemos a
segunda vela roxa da Coroa do Advento, como sinal do processo de conversão que
estamos vivendo.
Durante
esta semana poderíamos buscar nas diferentes igrejas mais próximas, os horários
de confissões disponíveis, para quando chegar o Natal, estejamos bem preparados
interiormente, unindo-nos a Jesus e aos irmãos na Eucaristia.
III
Domingo: O testemunho, que Maria, a Mãe do Senhor, vive, servindo e ajudando ao
próximo.
Na
sexta-feira anterior a esse Domingo é a Festa da Virgem de Guadalupe, e
precisamente a liturgia do Advento nos convida a recordar a figura de Maria,
que se prepara para ser a Mãe de Jesus e que, além disso, está disposta a
ajudar e a servir a todos os que necessitam. O evangelho nos relata a visita da
Virgem à sua prima Isabel e nos convida a repetir como ela: “quem sou eu para
que a mãe do meu Senhor venha a visitar-me?
Sabemos
que Maria está sempre acompanhando os seus filhos na Igreja, pelo que nos
dispomos a viver esta terceira semana do Advento, meditando sobre o papel que a
Virgem Maria desempenhou. Propomos que fomentar a devoção à Maria, rezando o
Terço em família. Acendemos como sinal de esperança gozosa a terceira vela, de
cor rosa, da Coroa do Advento.
IV
Domingo: O anúncio do nascimento de Jesus feito a José e a Maria.
As
leituras bíblicas se dirigem seu olhar à disposição da Virgem Maria, diante do
anúncio do nascimento do Filho dela e nos convidam a “aprender de Maria e
aceitar a Cristo que é a Luz do Mundo”. Como já está tão próximo o Natal, nos
reconciliamos com Deus e com nossos irmãos; agora nos resta somente esperar a
grande festa. Como família devemos viver em harmonia, a fraternidade e a
alegria que esta próxima celebração representa. Todos os preparativos para a
festa deverão viver-se neste ambiente, com o firme propósito de aceitar a Jesus
nos corações, as famílias e as comunidades. Acenderemos a quarta vela da Coroa
do Advento, de cor roxa.
Referências:
CONFERÊNCIA
NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Guia
litúrgico-pastoral. 2.ed. [s.l.]: CNBB, [s.d.]. 143 p.
CONGREGAÇÃO DO
CULTO DIVINO E A DISCIPLINA DO SACRAMENTO.
Instrução geral sobre o Missal Romano. 4.ed. Petrópolis: Vozes, 2005.
RYAN, Vincent. Do advento à epifania. São Paulo: Edições
Paulinas, 1992.