O Encontro com o Leproso
24/01: Dia Mundial do Hanseniano
Frei Almir Guimarães, OFM
Somos seres mergulhados no mistério da vida, Somos
cristãos. Queremos ser cristãos. Procuramos, ao longo das páginas desta
rubrica, compreender como Francisco da cidade de Assis foi descobrindo seu
caminho de viver. Quem sabe sua caminhada possa projetar luz em nossa
estrada! Particularmente, em sua trajetória, foi importante o
encontro que ele teve com o leproso e sua dedicação a esses irmãos “cristãos”
como ele costumava designá-los.
1. O encontro com o
leproso é um dos episódios mais delicados e sensíveis na vida de
Francisco do ponto de vista de sua biografia. Seu valor vai para além do fato
de ser tema para pintores da vida do santo. O encontro com o leproso foi
decisivo no discernimento de sua vocação e coloriu com tintas próprias e fortes
sua espiritualidade. Francisco já havia se encontrado com os pobres. Agora
estava diante de uma categoria toda especial de pobres, que eram esses
seres em decomposição, vivendo da misericórdia dos outros, nas periferias e nos
campos. Francisco, na esteira da Sagrada Escritura, compreenderá que Jesus foi
um leproso, segundo os textos de Isaías.
2. O famoso episódio do
beijo do leproso é relatado por quatro das mais antigas fontes hagiográficas.
Na Legenda dos Três Companheiros ,
11, lemos o episódio não tão diferente dos outros relatos. Francisco indo
de cavalo pelas cercanias de Assis se deu conta que um leproso vinha ao seu
encontro. O jovem experimentava uma natural repugnância por esses seres em
decomposição. Fazendo grande violência a si mesmo, desceu do cavalo, deu-lhe
uma moeda e beijou-lhe a mão. Tendo recebido o ósculo da paz da parte do
leproso voltou a montar o cavalo e prosseguiu seu caminho. Francisco vencera-se
a si mesmo. O doce tornara-se amargo e o amargo, doce. Tal vem expresso
nas primeiras linhas do Testamento do santo: “Foi assim que o
Senhor concedeu a mim, Frei Francisco, começar a fazer penitência: como eu
estivesse em pecado, parecia-me sobremaneira amargo ver leprosos. E o próprio
Senhor me conduziu entre eles, e fiz misericórdia com eles. E afastando-me
deles, aquilo que me parecia amargo se me converteu em doçura de alma e de
corpo; e, depois, demorei só um pouco e saí do mundo” (Test 1-3). O encontro com estes
seres tão pobres fez com que Francisco deixasse a mentalidade do mundo e
começasse sua transformação em discípulo sério de Cristo. Foi o começo de sua
conversão.
3. O filho de Pietro
Bernardone parece desprezar-se a si mesmo. Começava a existir o homem
espiritual. Os leprosos não constituem apenas uma primeira etapa de sua
caminhada vocacional. O serviço dos leprosos constituiu uma prática constante
em sua vida. Vale meditar neste trecho, também da Legenda
dos Três Companheiros, 11: “Poucos dias depois, levando consigo
muito dinheiro, dirigiu-se ao leprosário e, reunindo todos os leprosos, deu a
cada um uma esmola, beijando-lhe a mão. Ao se afastar, o que lhe parecia
amargo, mudara-se em doçura. Tanto assim que, como ele contou, no passado, a
vista dos leprosos lhe era repugnante de tal forma que, não querendo vê-los,
nem mesmo se aproximava de suas habitações e, se por acaso alguma vez lhe
acontecesse de passar perto de suas casas ou de vê-los, virava o rosto e tapava
o nariz, muito embora, movido por piedade, lhes mandasse esmola por intermédio
de outra pessoa. Depois desses fatos, no entanto, por graça de Deus, de
tal maneira tornou-se familiar e amigo dos leprosos, que, como ele mesmo
afirma no Testamento, gostava de ficar entre eles e humildemente os servia”.
4. “Cuidando dos
rejeitados do mundo Francisco começava a ascender à genuína nobreza que
buscava, que seria descoberta não nas armas, ou em títulos e batalhas, glórias
ou duelos. A honra não estava na companhia dos mais fortes, dos mais atraentes,
dos mais bem vestidos ou mais garantidos na sociedade, mas entre os mais
fracos, os mais desfigurados, os que estavam marginalizados, dependentes,
desprezados (…). Ao dedicar-se ao cuidado dos leprosos, ele tinha ido para além
do intelectual e chegara à experiência. No inimaginável sofrimento deles viu a
agonia final do Cristo crucificado – o Cristo abandonado e rejeitado, solitário
na morte, aparentemente impotente contra a triunfante maldade do mundo” (Francisco de Assis. O Santo Relutante, Donald
Spoto, Objetiva, Rio de Janeiro, p.104).
Para continuar a
reflexão
1 Celano 17
Três Companheiros 11
Três Companheiros 11
Para refletir
1. O que mais impressiona no tema dos leprosos em
Francisco?
2. Quais seriam os leprosos de hoje?
3. Podemos imaginar um franciscano que, de fato, passe a viver concretamente com a ralé da sociedade? Como?
2. Quais seriam os leprosos de hoje?
3. Podemos imaginar um franciscano que, de fato, passe a viver concretamente com a ralé da sociedade? Como?
See more at:
http://www.franciscanos.org.br/?p=14371#sthash.M7qWz7aI.dpuf
0 Comentários