O ser humano e o preconceito
“Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade.” — Artigo 1.° da Declaração Universal dos Direitos Humanos.
O nobre ideal da
declaração supracitada merece ser revisto quantas vezes necessário for, e, além
do mais, vivenciado por todos nós, pois os preconceitos ainda afligem o ser
humano e a sua dimensão interpessoal. Constatamos nos últimos dias,
principalmente nas redes sociais, que ainda temos conceitos pré-concebidos uns
dos outros, por várias motivações intrínsecas e extrínsecas e muitas vezes não
perceptíveis pelo ser humano.
Refiro-me às postagens
direcionadas ao povo nordestino em virtude dos resultados das eleições
presidencialistas de 2014. Enquanto isso, muitos respondem com frases
regionalistas do tipo “tenho orgulho de ser nordestino”. Interessante que, no
calor da emoção, somos levados a um caminho de separação da comunidade que se
denomina nação brasileira. Afinal, somos todos brasileiros. Aliás, não somos
todos seres humanos?
As opiniões devem ser
resguardadas com o respeito devido, mas até que ponto a nossa opinião pode
ultrapassar o limite da dignidade do outro, esmagando os seus sentimentos e
retroagindo o seu crescimento? Essa triste realidade do preconceito – este
gerando discriminação - é um reflexo não somente do tempo vivido por nós hoje,
mas por conta também das nossas imperfeições como ser humano. (Salmo 51, 5) Somos
capazes de enxergar o erro do outro, mas, muitas vezes, temos dificuldades de
ver o EU preconceituoso. Isso é uma reflexão que devemos fazer constantemente quando
nos dizemos cristãos e também franciscanos.
O nosso seguimento à
proposta evangélica de vida promove o surgimento de valores como o respeito às
diferenças, o acolhimento aos marginalizados, a ternura aos que sofrem, entre
outros. Jesus Cristo, conhecendo nossas imperfeições, nos aponta o caminho a
ser seguido. Ele é o caminho (João 14, 6) e ensina-nos: “Não
julgueis, para que não sejais julgados. Porque com o juízo com que julgardes
sereis julgados, e com a medida com que tiverdes medido vos hão de medir a vós.
E por que reparas tu no argueiro que está no olho do teu irmão, e não vês a
trave que está no teu olho? Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o
argueiro do teu olho, estando uma trave no teu? Hipócrita, tira primeiro a
trave do teu olho, e então cuidarás em tirar o argueiro do olho do teu irmão”.
(Mateus 7, 1-5).
Torna-se importante
relembrar aqui o diálogo entre Jesus e a samaritana no poço de Jacó (João 4,
9), onde com o olhar do ser humano a mulher não entende que Deus extrapola as
barreiras do preconceito e da discriminação e abre caminho para os homens
viverem a fraternidade universal. Sobre o mesmo Evangelho, o Papa Francisco
observou que o pedido de Jesus à samaritana – “Dá-me de beber”- “supera todas
as barreiras de hostilidade entre judeus e samaritanos e rompe os esquemas de
preconceito em relação às mulheres”.
O Sumo Pontífice ainda
afirmou que “o simples pedido de Jesus é o início de um diálogo sincero,
mediante o qual Ele, com grande delicadeza, entra no mundo interior de uma
pessoa à qual, segundo os esquemas sociais, não deveria nem mesmo dirigir uma
palavra. Jesus se coloca no lugar dela, não julgando-a, mas fazendo-a sentir-se
considerada, reconhecida, e suscitando assim nela o desejo de ir além da rotina
cotidiana”.
Um bom começo de
reflexão é admitir que nenhum de nós está imune a ter preconceitos. Todos os
dotados de raciocínio podem nutrir preconceitos. Contudo, felizmente, podemos
fazer um esforço consciente para diminuí-los, desde que haja motivação.
A raiz do problema
pode estar em valores familiares mal direcionados, conceitos distorcidos sobre
outras raças e culturas, preconceito fomentado pelo nacionalismo/regionalismos ou
por falsos ensinamentos religiosos, assim como pode ser resultado de orgulho
exagerado.
Uma boa arma contra o
preconceito, além do exemplo do nosso Mestre, pode ser a educação com
qualidade, pois esta cria um sistema de defesa apontando as causas do
preconceito, fazendo com que examinemos nossas próprias atitudes com mais
objetividade e nos ajuda a reagir com sabedoria quando nós somos as vítimas
desse mal impregnado em toda a sociedade.
REFLEXÃO:
1.
Quais os tipos de preconceitos eu
percebo em mim mesmo? Sou ou fui vítima de algum tipo de preconceito?
2.
O que faço para minimizá-los?
3.
O que podemos fazer, como fraternidade,
para conscientizar as pessoas sobre a igualdade em direitos que deve existir na
sociedade?
4.
Como franciscanos, de que forma podemos
acolher o outro na sua diferença?
Sérgio Vicente Marcos – Secretário Regional de Formação
NE A2 CE/PI
Referências:
www.wol.jw.org/.
www.paroquiasantamena.com.br/portugues/?p=5916.
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