A história do menino mexicano comove bispos do Sínodo
Cidade do Vaticano – Quando dói, na Igreja, o problema das pessoas unidas em segundas núpcias que são excluídas dos sacramentos da confissão e da comunhão? A Assembleia Sinodal reunida quinta-feira, no Vaticano, na 11ª Congregação geral, ficou paralisada ao ouvir o relato de um bispo mexicano. Dom Alonso Gerardo Garza Trevino, da Diocese de Piedras Negras, em seu pronunciamento, contou o episódio de um menino que fazia a primeira comunhão em sua diocese e cujos pais, ambos divorciados e recasados, não podiam fazer a comunhão na cerimônia. Ao receber a hóstia, o menino a dividiu e levou a seus pais dois pedaços para que eles também comungassem, como todos os pais presentes.
Um caso pequeno, mas que pode influir mais do que mil palavras no debate em curso no Sínodo, porque é emblemático dos sofrimentos vividos pelos católicos em ‘situação irregular’ e testemunha que os filhos de divorciados – uma porcentagem consistente dos jovens de hoje – não aceitam a exclusão dos pais desta dimensão central da vida cristã.
“Certamente tem coisas que são comoventes e as pessoas ficam sensibilizadas diante de certas questões. Esta foi uma. Outro momento muito tocante também foi quando o Cardeal Schoenborn contou da situação dele, filho de um casal que se divorciou, etc. Ele percebeu outro aspecto e disse “Às vezes nós, Igreja, falamos dos divorciados de uma maneira que um filho de divorciados se sente machucado; temos que aprender a falar de uma forma mais adequada, etc. Então, são coisas que jamais poderiam passar assim, como se nada fosse… Certamente isso tem suas influências”, disse Dom Giancarlo Petrini, bispo de Camaçari (BA) e Presidente emérito da Comissão Episcopal para a Vida e a Família da CNBB, que estava presente na Sala no momento do relato.
“Não há nenhuma objeção ao fato que todos devem ser acolhidos. Todos são filhos de Deus, todos merecem não somente o respeito, mas o total acolhimento da Igreja. Mas até onde vai este acolhimento? Começa a ficar claro que é um acolhimento para participar da Igreja, para participar diversas e não ter tantos limites como antigamente. Era difícil, era impossível uma pessoa recasada ser padrinho ou madrinha em um batizado, etc. Tudo isso está sendo um pouco repensado”, continuou D. Giancarlo.
“O ponto é realmente a Eucaristia. Há duas coisas em jogo, na realidade: uma é a agilização, por parte do Papa Francisco, dos processos canônicos para a declaração de nulidade matrimonial. Aquilo que parecia uma coisa delicada, quase impossível para muitos casais, hoje pode ser muito simplificado. Em segundo lugar, tem havido algumas propostas para que o bispo possa avaliar, quando não existe a declaração de nulidade, os casos que de alguma maneira especial, possam se configurar como uma ‘nulidade não-declarada’, digamos assim. O certo é que o acolhimento para que haja um retorno à Igreja, uma maior participação na vida da Igreja, é tranquilo, é totalmente de consenso, de todos. Não vi ninguém reclamando a este respeito. Há nuances na maneira de ver até aonde este acolhimento pode chegar e há dificuldades em contradizer a milenar doutrina da Igreja”, observa o bispo.
“Com certeza estes fiéis terão uma resposta concreta. Acho que esta é uma nova etapa da Igreja, que se fixa menos na dureza da lei e claro, sem jogar fora o que não pode ser jogado, valorizar mais a característica do ser de Deus, que é a misericórdia, que deve ser sempre mais a característica de cada cristão e, portanto, de toda a Igreja”, espera D. Giancarlo.
O bispo também nos fala da proposta brasileira para o caminho de acolhida dos divorciados e recasados: “A proposta brasileira foi explicitada por Dom Raymundo Damasceno, que foi Presidente da CNBB até abril deste ano e que é Presidente-delegado do Sínodo. Ele pediu exatamente que este acolhimento dos aspectos mais difíceis sejam aprofundados por uma comissão, para que se possa ter mais segurança; que esta abertura possa ser feita para vencer os medos, as reticências. Tudo isso deve ser mais aprofundado por um comitê de estudos, digamos assim, que o Papa poderá…. assim como fez com o processo de nulidade”.
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