SANTO ANTÔNIO (REFLEXÃO DOS SERMÕES)
Natural
de Lisboa, Santo Antônio era filho de família abastarda, recebeu no batismo o
nome de Fernando. De boa índole, inclinado à piedade e às coisas santas, sua
formação espiritual e intelectual foi confiada aos cônegos da Ordem dos
Regrantes de Santo Agostinho, mais tarde ingressou ainda adolescente como
noviço da mesma Ordem, no Mosteiro de São Vicente de Fora, iniciando os estudos
para sua formação religiosa.
Poucos
anos depois pediu permissão para ser transferido para o Mosteiro de Santa Cruz
de Coimbra, a fim de aperfeiçoar sua formação. Em Coimbra entrou em contato com
os primeiros missionários franciscanos que haviam chegado a Portugal em 1217, e
que estavam a caminho do Marrocos para evangelizar os mouros. Sua pregação do
Evangelho no espírito de simplicidade, idealismo e fraternidade franciscana, e
sua determinação missionária, devem ter tocado o sentimento de Fernando.
Entretanto, uma impressão ainda mais forte ocorreu quando os corpos desses
frades, mortos em sua missão, voltaram a Coimbra, onde foram honrados como
mártires. Autorizado a juntar-se a outros franciscanos que tinham um eremitério
nos Olivais, sob a invocação de Santo Antônio do Deserto, mudou seu nome para
Antônio e iniciou sua própria missão em busca do martírio.
Na
Ordem Franciscana em meados de 1221, dirigindo-se para Assis a fim de
participar do Capítulo da Ordem, o último que seria feito com a presença de São
Francisco de Assis, foi designado para um eremitério em Montepaolo, na província
da Romagna, ali passou cerca de quinze meses em intensas meditações e árduas
disciplinas. Após deixar o isolamento, dirigiu-se a Forli, onde aconteceria a
ordenação de alguns frades, e ali faltando o pregador para a cerimônia, e não
havendo nenhum frade preparado para tal, o provincial solicitou a Antônio que
falasse o que o Espírito Santo o inspirasse. Protestou, mas obedeceu, e
dissertando para os franciscanos e dominicanos lá reunidos de forma fluente e
admirável, revelando-se notável orador. Segundo seus biógrafos, ele tinha um
exterior polido, gestos elegantes e aspecto atraente. Sua voz era forte, clara, agradável, e uma boa memória. Entretanto, o
que marcava, era a força incontestável de sua pregação, o poder de sua voz
sobre os corações e as inteligências.
Dentre
as várias pregações proferidas em viva voz, resistiram ao tempo 77 sermões que constam
em sua obra publicada em edição crítica, Sermões Dominicais e Festivos,
e que são considerados autênticos. São
textos eloquentes, persuasivos, cheios de zelo messiânico, sendo
frequentes a defesa do pobre e a repressão do rico, e o combate
às heresias de seu tempo com uma eficácia tanta que lhe foi dado o
apelido “o martelo dos heréticos”. A análise das referências que fez em seus
escritos, junto com o levantamento das fontes literárias presentes em seu tempo
nas bibliotecas que frequentou, especialmente a de Santa Cruz, atestam sem
sombra para dúvidas que sua preparação intelectual foi ampla e profunda. Além
de um conhecimento detalhado da Bíblia, dos escritos dos Padres da Igreja
e outros escritores cristãos, são encontradas citações de escritores clássicos.
Considerava a Escritura Sagrada a fonte da ciência superior, da verdadeira
ciência, da qual todas as outras eram meras servas e simples coadjutoras no
trabalho da Salvação. Por isso deu grande importância ao texto sagrado,
privilegiando a extração do seu sentido moral.
Os sermões são ainda um precioso
documento de época, muitas vezes fazendo alusões às transformações sociais e
econômicas que ocorriam durante aquele período, atestando o crescimento das
cidades, o florescimento das atividades artesanais e do comércio, o surgimento
das corporações de ofícios, as diferenças de classes. Além dos conteúdos
sacros, que ainda preservam seu caráter inspirador, tais alusões — onde surge
aguda crítica social na condenação da avareza, da usura, da inveja, do egoísmo,
da falta de ética na administração pública, dos falsos moralistas e hipócritas,
dos maus pastores de almas, do orgulho dos eruditos, dos ricos ensimesmados em
sua opulência que oprimem e excluem os pobres do tecido social — são
responsáveis pelo valor perene e atual de seus escritos, sendo passíveis de
imediata identificação com muitas circunstâncias e contradições da vida
contemporânea (Souza, pp. 461-474). Diante de tanta
riqueza espiritual dos sermões, em 1946 o Papa Pio XII reconhece Santo Antônio
como Doutor da Igreja, atribuindo-lhe o
título de “Doutor evangélico”, porque desses escritos sobressai o vigor e a
beleza do Evangelho (Papa Bento XVI).
Segundo
Bento XVI muito pode ser aproveitado nos dias de hoje com a leitura dos
sermões. Fica o convite de aprofundarmos os estudos nesta grande obra de um dos
santos franciscanos mais populares e que é para nós fonte de inspiração.
Larissa
Lima – Formadora Regional- SE 1( MG )
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