ESTIGMAS DE SÃO FRANCISCO

Após Cristo ter entregado sua vida ao Pai para salvação de todos, Ele foi ao inferno e removeu todas as almas que ali estavam e deu a salvação a todos aqueles que seguissem seus passos através do Evangelho. Contudo, o fim dos tempos esteve bem perto, mais precisamente nos anos de 1200. Isso é sabido por causa de um nobre que se tornou membro da terceira ordem, o senhor Landolfo, que recebeu a notícia da morte e da impressão dos sacro-santos estigmas através de uma mulher que estava possuída por um demônio. Ele foi até a mulher possuída que por dois dias os demônios deixaram seu corpo, voltando no terceiro dia com ainda mais fúria. Intrigado o Senhor perguntou-lhe por que tinha abandonado o corpo daquela mulher e voltado com mais ira. O demônio respondeu que a sua ausência foi devida a tentativa de capturar a alma do mendigo Francisco, embora essa tentativa foi frustrada, pois uma multidão de anjos levaram-na diretamente para o céu. O senhor Landolfo sem acreditar mandou por parte de Deus que o demônio contasse sobre a santidade de São Francisco. O demônio então respondeu: “Ele, Deus Pai, estava tão indignado contra os pecadores do mundo, que em breve parecia a definitiva sentença e exterminar o mundo se não se corrigissem. Mas Cristo, seu Filho, suplicando pelos pecadores, prometeu renovar a sua vida e sua Paixão em um homem, isto é, em Francisco. E então, para mostra ao mundo que isto ele tinha feito em São Francisco quis que os estigmas de sua Paixão, os quais tinha impressos em seu corpo em sua vida”. Portanto, o Cristo renovou seus estigmas no Frei Francisco. Mas como isso aconteceu? E como São Francisco sentiu as mesmas dores e os mesmos amores que o próprio Cristo?
Tudo começou no ano de 1224 quando São Francisco de Assis estava na região de Monte Feltro onde se realizava uma grande festa no castelo de um nobre daquela região. Acompanhando o Francisco estava o Frei Leão que propõe que os dois se dirijam para o castelo para que seja possível que lá eles conquistem alguns frutos espirituais com suas pregações. Com suas palavras de exemplos de santos e santas da Igreja que foram mártires na história ele conquistou a atenção de um dos nobres que ali estavam, o senhor Orlando de Chiusi que ficou admirado com as palavras do Santo Frei. Ao final da pregação de Francisco, o senhor Orlando foi até o Frei e lhe pediu que tivessem uma conversa para que fosse possível salvar sua alma. Então Francisco pediu-lhe que o procurasse após a festa para que pudessem ter essa tal conversa. Depois da festa lá estava o senhor Orlando com São Francisco que após a conversa e os conselhos do Santo estigmatizado ficou muito agradecido. “ Tenho na Toscana um monte devotíssimo que se chama monte Alverne; o qual é muito solitário e muito apropriado para quem quiser realizar penitência” ofereceu o senhor Orlando a São Francisco que muito agradecido louvou primeiramente a Deus e depois ao senhor Orlando. Então São Francisco volta a Santa Maria dos Anjos e manda dois irmãos irem falar com o senhor Orlando para que mostre onde era o Monte. E assim se fez e eles foram e acharam um ótimo lugar para ficar voltando para Santa Maria dos Anjos, afirmando que tinham achado um lugar perfeito.
Na Quaresma, São Francisco e alguns irmãos da Ordem decidiram ir para Monte Alverne para fazer morada no lugar recém-recebido. Sem se preocupar com o que iriam comer onde iriam dormir, Francisco ofereceu à Jesus Crucificado toda a peregrinação que eles fariam até o Monte. Mendigariam um pouco de pão e descansariam no lugar que Deus assim preparasse para eles. Já na primeira noite eles alcançaram um lugar de estádia para frades e ali ficaram. Só que na segunda noite, pelo cansaço e pelo mau tempo eles não conseguiram alcançar nem lugar de estalagem e então encontraram uma igreja abandonada onde ficariam. Quando todos estavam dormindo São Francisco pôs-se a orar. E foi ali que uma legião de demônios travou uma batalha com o santo Frei puxando-o, ameaçando-o e tentaram de todos os modos atrapalhar suas orações. Contudo, Deus estava com ele e, portanto não conseguiram. “ Ó espíritos danados, vós nada podeis senão o que a mão de Deus permite... Deus vo-lo digo: que façais no meu corpo o que Deus vós permite, contanto que eu o suporte de boa vontade” o que nosso Pai Seráfico passou foi aceito de boa vontade, pois para Francisco o sofrimento terreno o pouparia do sofrimento no outro mundo. De forma semelhante a isso nota-se que a mesma entrega de coração e alma por Jesus Cristo no monte das Oliveiras. “ E disse: Aba, Pai, todas as coisas te são possíveis; afasta de mim este cálice; não seja, porém o que eu quero, mas o que ti queres” – Mateus 14,36. Jesus aceitou o sofrimento que ele sentia em seu peito e do destino que O Senhor tinha traçado para Ele. Assim foi dentro do coração de Francisco que aceitou o sofrimento e as batalhas enfrentadas com os demônios se assim fosse da vontade de Deus. Após esses fatos os irmãos encontraram o Pai Francisco rezando e chorando em voz alta a Paixão de Cristo como se ele próprio estivesse aos pés da Cruz.
Ao raio do sol todos se puseram a andar, mesmo Francisco estando cansado. Foi através da ajuda de um camponês com seu asno que eles chegaram finalmente ao monte Alverne. Lá eles puderam montar uma moradia com o auxílio do senhor Orlando que logo que soube da chegada de São Francisco foi vê-lo. Com alguns dias em Monte Alverne, São Francisco começou a ensinar a todos os freis que ali estavam, além dos leigos que iam visita-lo. Chegando perto da festa da Santa Cruz ele pediu a todos que fosse respeitado a decisão dele de passar a festa sozinho e distante que apenas Frei Leão fosse até ele para dar um pouco de água e pão quando fosse necessário. 
Passando os dias solitário no seu lugar de oração e contemplação, São Francisco pode encher-se mais do regaço do Senhor até o momento em que finalmente ele estaria pronto para receber os sacro santos estigmas. Isso aconteceu no período entre a madrugada e a manhã, quando Francisco acorda e vai até um canto do Monte e prostra-se de joelhos e pede a Jesus: “Ó Senhor Jesus, duas coisas eu te peço: a primeira é que em vida eu sinto na alma e no corpo, quanto for possível aquela dor que tu, doce Jesus, suportaste na hora da tua Paixão; a segunda é que eu sinta no meu coração o quanto for possível, aquele excessivo amor do qual tu estavas inflamado para de boa vontade suportar tal Paixão”. Com essas palavras São Francisco aceita a renovação da Paixão em seu corpo e sua alma e , assim como Cristo Crucificado, através da impressão dos santos estigmas ele sentirá as mesmas dores que Cristo sentiu como também sentirá o mesmo amor pelos pecadores salvos como a entrega do Cordeiro Divino.
E todo Monte Alverne foi iluminado como se o sol já tivesse saído do seu sono. Contudo, era um Serafim que tinha descido do céu e no voo rasante aproximou-se do Santo Frei com a imagem do Cristo Crucificado. Vendo aquilo tudo, Francisco ficou admirado e lhe foi revelado pelo próprio Cristo que não por martírio carnal, mas por incêndio mental que similarmente a Cristo, Francisco deveria passar as dores de sua Paixão. E assim se fez, Cristo revelou os motivos para São Francisco porque ele estaria passando por tudo aquilo. “Dei-te os estigmas que são os sinas de minha Paixão, a fim de que sejas meu gonfaloneiro. E como no dia de minha morte desci ao limbo e tirei todas as almas que ali achei, assim te concedo que todos os anos no aniversário de sua morte você vás ao purgatório e de lá remova todas as almas de suas três Ordens em virtude dos teus estigmas. A fim de que tu me sejas conforme na morte como na vida”. E assim após as palavras de Cristo Crucificado, imediatamente foi cravado nas mãos e nos pés do Santo Frei os cravos da Paixão de modo que poderia passar um dedo entre as feridas e o seu lado direito foi aberto de tal maneira que o seu sangue e água mancharam sua túnica.  E foi assim que São Francisco recebeu os sacros santos estigmas de Cristo, pois o mundo precisava de uma renovação e foi através desse pobre homem que Cristo viu a manutenção de suas promessas.
Mas a missão de Francisco não termina aí. Mesmo debilitado pela Graça recebida, ele teve muito trabalho para realizar durante os dois anos que ainda viriam antes de sua morte. Foi através dos Santos Estigmas que Francisco operou milagres por onde passava e todos eram abençoados quando por ele eram tocadas, pois a Graça Divina fazia morada nele. As mesmas dores que Cristo passou na crucificação para que o martírio terreno poupasse a humanidade dos castigos no outro mundo e fazendo isso por um amor imenso aos homens entregando-se em holocausto como o cordeiro divino, passou Francisco. Jesus escolheu o mais humilde e pobre dos homens, mas que possuía uma enorme alma que poderia suportar tudo que passaria. Então sejamos gratos a Francisco, pois foi através dele que mais uma vez Jesus interviu pela humanidade e nos salvou do fim dos tempos. Como franciscanos somos muito felizes por ter como Pai Seráfico esse homem que desde o instante de sua conversão através da cruz de São Damião estava sendo preparado para esse momento de graça.

Vitor Luiz Amorim Santos -  Fraternidade Servos do Criador / SERGIPE