FRANCISCO DE ASSIS E A REVOLUÇÃO DO AMOR
Se é pra ir a luta, eu vou!
Se é pra tá presente, eu tô!
Pois na vida
da gente o que vale é o amor... (Zé Vicente)
Francisco de Assis viveu no
período da Cristandade, sob o domínio do Papa Inocêncio III (1198-1216).
Vivia-se uma profunda crise teológica na Igreja Católica, sob a égide do
“dominium mundi”, domínio do mundo, toda a Europa até a Rússia vivia submissa
às decisões e regras do Papa. A igreja vivia como um império de luxo e glória
contradizendo todos os ensinamentos de Jesus. A etimologia da palavra “amor”
tem sua origem no latim “amare”, “amor”, utilizado para designar o sentimento de “gostar de
algo ou alguém”, sentir afeição, desejo ou preocupação. Francisco descobriu o
amor na humildade da Igrejinha de São Damião, lá diante do crucificado
descobriu que “o Amor não é amado” e esse Amor é desprezado nos tantos
crucificados da sociedade. A etimologia da palavra “revolução” tem sua
origem no latim “revolutio”, “revolutos” e
“revolvere”, que significa ‘virar,
transformar, ato de dar voltas, girar’. De acordo com a teoria científica de
Copérnico a Terra está em constante processo de revolução. Francisco foi um
revolucionário, subversivo e transgressor da ordem vigente. Escolhi três
momentos de sua vida onde podemos analisar sua militância e vocação
revolucionária. O filho de Pedro Bernardone nasceu com os privilégios de um
filho da nobreza, além do título, a fama e a fortuna. Esta era a tradição
hereditária da época, onde a ambição pelo ter
era superior ao ser. Francisco
vai subverter essa ordem quando diante dos seus pais e do bispo de Assis, Dom
Guido II (1204-1228), renuncia a toda sua herança e fica despido de suas roupas
diante de todos. Surge então o jovenzinho transgressor que desafia as
principais instituições de sua época, a família e a Igreja. Desafia a
autoridade política da Igreja. Francisco poderia ter sido preso como louco e
infame. Mas sua “loucura” será revelada em outros momentos. O jovem de Assis
fez a opção radical e preferencial pela pobreza e pelos pobres. Já deserdado de
seus direitos e expulso de casa, se dirige para fora dos muros de sua cidade e
vai servir com misericórdia e diligência aos pobres e leprosos no leprosário. É
o Francisco de Assis que vai para a “quebrada da periferia” viver com os que
vivem a margem do sistema. Ele beijou o leproso, onde o Cristo se revelou. Quem
são os leprosos de hoje? Precisamos beijar e assumir a luta e a causa de cada
trabalhador/a, a causa das mulheres, a causa dos/as negros/as, a causa das/os
LGBTT’s, e de todos/as pobres que são oprimidos por esse sistema que exclui,
degrada e mata. O pobrezinho de Assis também sofreu preconceito com o seu grupo
quando se dirigiu a Roma para a aprovação da regra. O Papa não queria o
receber, então passaram dias de resistência até serem ouvidos. Inocêncio III
foi surpreendido com uma proposta de vida baseada no despojamento dos bens
materiais e na caridade. Ele duvidou e subestimou as capacidades de Francisco.
O pobrezinho astuto e inteligente, utiliza dos seus argumentos para arte do
convencimento, e conquista a revolução com a aprovação oficial de sua ordem.
Podemos concordar que o homem de Deus
vivia o lema “ousadia e alegria”, mais uma vez ele desafia os poderes políticos
da Igreja. Ousadia foi quando desafiou o martírio nas terras do Egito e no
encontro com o sultão. Vemos nesse episódio a revelação de sua vocação política
com um diálogo inter-religioso de paz. Acredito que Francisco daria um
excelente ministro das relações exteriores e que ele tem muito a ensinar a ONU
(Organização das Nações Unidas). Francisco viveu o amor até as ultimas
consequências, quando encarna o peso das dores do crucificado e quando assume
as chagas da sociedade. Ele viveu em sentido estrito e teologal a caridade pela qual amamos a Deus sobre todas as coisas por Ele
mesmo, e ao próximo como a nós mesmos, por amor de Deus. O pobrezinho de Assis nos mostra a Revolução
como o caminho para a práxis (teoria na prática) da vivência de uma Fé pautada
na misericórdia, na justiça e na paz.
Lucas Lins
Subsecretário de Formação e DHJUPIC – Fraternidade Nova Metrópole
Membro da Articulação do Movimento Fé & Política – Ceará
Licenciando em Ciências Sociais pela Universidade Estadual do Ceará
Referências
1.
Fontes Franciscanas / [coordenação geral Dorvalino Francisco Fassini; edição
João Mamede Filho]. – Santo André, SP; Editora “O Mensageiro de Santo Antônio”,
2004.
2.
BOFF, Leonardo. Francisco de Assis e Francisco de Roma. Site
LeonardoBOFF.com.
Disponível
em:
https://leonardoboff.wordpress.com/2013/03/29/francisco-de-assis-e-francisco-de-roma/
3.
C da Igreja Católica - São Paulo: Loyola,
1993
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