SANTO ANTÔNIO E A OPÇÃO PREFERENCIAL PELOS POBRES
SANTO ANTÔNIO E A OPÇÃO PREFERENCIAL PELOS POBRES
A sabedoria popular consagrou
diversos homens e mulheres em arquétipos, isto é, modelos de vida. Assim
aconteceu com o filho de Fernando Martins Afonso de Bulhões e Maria Taveira,
onze meses após a sua morte, na Catedral de Espoleto, Itália. Estamos falando
de Santo Antônio, tão próximo a todos nós. Se o que tornou Santo Antônio
mundialmente reconhecido como homem das letras foi a sua dedicação aos estudos,
certamente, não foi esse o motivo que o tornou santo e até hoje, 788 anos após
a sua morte, um dos santos mais invocados pelo povo simples.
De Fernando a Antônio
Em primeiro lugar, vamos
compreender quem é Santo Antônio. Nascido Fernando em Lisboa, Portugal, em
1191. Ainda adolescente entrou para o Seminário dos Cônegos Regulares de Santo
Agostinho e logo pediu transferência para Coimbra, onde poderia aprofundar os
seus estudos na Sagrada Escritura na cidade universitária, onde tornou-se
professor. Foi também em Coimbra que encontra cinco frades franciscanos que
estavam a caminho do Marrocos. A crise entre a Igreja e os prelados era muito
grande.
Tempos depois, diante das
relíquias dos primeiros mártires franciscanos, decide largar todo aquele
aparato clerical para viver a simplicidade do evangelho na fraternidade e no
anúncio do Reino de Deus. Porém, na viagem, cai em febre na África, onde decide
retornar à sua terra natal. O navio em que ele estava acaba indo parar na
Itália. Uma feliz coincidência: reuniam-se em Assis, mais de três mil frades
para o Capítulo das Esteiras.
O desejo de seguir o Cristo Pobre até as últimas consequências
Após o Capítulo, vai ver no
eremitério no cimo do Monte Paulo, como sacerdote, celebrava a missa aos
confrades, mas faz outros serviços, como lavar pratos e cuidar da horta. Dedica
longos períodos de oração em silêncio e recolhimento. Na cidade de Forli,
Itália, durante uma ordenação sacerdotal é convocado pelo superior a fazer a
pregação. A partir daí ele começa a percorrer as estradas anunciando o Evangelho.
Torna-se, então, o que muitos
anos mais tarde será chamado como Santo Antônio: doce consolador dos pobres.
Oratória: do discurso à prática
No tempo de Frei Antônio, a
pobreza era crescente: a passagem de uma sociedade feudal para a burguesia
trouxe muitos desafios estruturais. Formaram-se as cidades, onde a desigualdade
era maior do que no campo. Os pobres eram explorados e sofriam de muitas
doenças. Santo Antônio não se dedicou a obras caritativas e assistencialistas.
Ele utilizou do poder de sua palavra para atacar a raiz da pobreza: o egoísmo
dos ricos e a exploração dos operários.
A arte de falar em público pode
ser uma atividade de exaltação do eu. Porém, Antônio foi um orador religioso e
atento aos problemas da comunidade. Apesar de não fazer parte de uma ONG,
Antônio realizava pequenos gestos que mostravam a sua vontade de ajudar os
pobres de Cristo.
Estar junto dos marginalizados é exigência evangélica
Conta a história que, comovido
com a situação dos pobres, Frei Antônio havia distribuído todo o pão do
refeitório do convento. Quando chegou a hora da refeição, o frade padeiro ficou
desesperado por não ter nenhum pão para alimentar os frades. Foi comunicar a
Antônio, que pediu que retornasse à cozinha e verificasse o cesto. Em seguida,
o frade voltou com a notícia que o cesto estava transbordando de tanto pão.
Este pão alimentou os frades e todos os mendigos que vieram pedir ajuda ao
convento.
A defesa de Santo Antônio foi tão
eficaz, que no dia 15 de março de 1231, ano de sua morte, ele conseguiu a
promulgação de uma lei em favor dos pobres de Cristo.
Aos 15 de março de 1231, o
governo de Pádua promulgou uma lei nova nos seguintes termos: “A pedido do
venerável irmão Antônio, confessor da Ordem dos Frades Menores, para o futuro,
nenhum devedor ou fiador poderá ser privado pessoalmente de sua liberdade,
quando ele se tornar insolvente. Somente suas posses poderão ser apreendidas
neste caso, não porém sua pessoa e sua liberdade”. Com esta lei, Frei Antônio
conseguiu salvar a dignidade dos pobres.
Antônio de Pádua, Lisboa, do mundo inteiro: inspiração para a Juventude Franciscana do Brasil
Acabamos de conhecer relatos de
três características diferentes de Santo Antônio: orador atuante, religioso
místico e frade profeta. O que tudo isso tem a dizer a nós?
Certamente, Santo Antônio nos
inspira grandes ideais de simplicidade e cuidado com aqueles que nos cercam.
Porém, nada disso teria acontecido se não fosse por Aquele a quem Santo Antônio
decidiu, ainda em Lisboa, dedicar a sua vida: Jesus Cristo. A opção
preferencial pelos pobres é consequência de uma opção essencial por Jesus
Cristo, e por isso, irrevogável.
Três meses após a promulgação da
lei em favor dos pobres, num quartinho das Clarissas, ele encontra-se
definitivamente com Deus. E diz: “Gloriosa Senhora, sobre as estrelas exaltada,
alimentaste em teu seio Aquele que te criou”.
Em tempos de injustiça e
intolerância contra os mais pobres e marginalizados, queremos rezar: Santo
Antônio roga por nós, dá-nos ousadia missionária e livrai-nos da indiferença
paralisante.
Vinícius Fabreau
Secretário Regional de Ação Evangelizadora – Sudeste 3
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