ANEL DE TUCUM: IDENTIDADE E PROFECIA

Resgate de trecho de texto publicado no XVIII Caderno Nacional de Formação


"Para nós, franciscanos e franciscanas, lutar pelos que sofrem, aproximar-se dos necessitados e buscar superar os obstáculos e distâncias que nos separam das realidades periféricas é Formação Permanente e Profissão de Fé."

Levar o Evangelho à vida e a vida ao Evangelho deve ser uma escolha, decisão e obrigação inerente a nossa vocação franciscana. Caso contrário, precisamos repensar nossa profissão à Regra de Vida!. A aspiração por uma “Igreja dos pobres” vem à tona durante o Vaticano II, ecoa nos documentos conciliares, atinge sua explicitação madura nas conferências gerais do Celam com a opção preferencial pelos pobres afirmada em Medellín (1968), confirmada em Puebla (1979), Santo Domingo (1992) e Aparecida (2007). Mas, bem antes do Concílio Vaticano II, a nossa opção preferencial é pelos pobres desde Francisco de Assis que converteu sua vida ao encontrar com o Cristo pobre e crucificado em seu dia-a-dia na vida de penitência. Em São Damião e também no beijo ao leproso o Poverello encontrou Jesus, amando o que era “amargo” e a quem ninguém queria amar, os pobres.

Por isso, aproximar-se destas vidas e buscar derrotar a miséria oferecida a maior parte dos moradores de nossa Casa Comum é imperativo. Fazer-se o próximo de quem precisa não é só vocação franciscana, mas vocação humana. Muitos grupos de pessoas, independentemente de sexo, religião, posicionamento político, fizeram e fazem isto cotidianamente e cultivam a atenção aos pobres reconhecendo que a promoção humana é essencial. Como exemplo disto, citamos Dom Waldyr Calheiros, bispo já falecido da Diocese de Barra do Piraí e Volta Redonda, que afirmou para dona Maria da Graças, participante das CEBs local, quando questionado sobre “como tapar os buracos da rua com tanta gente de religião diferente no mesmo lugar? Como juntar todo mundo?”: “o buraco na rua e a falta de água não tem religião. É problema de todos”, respondeu Dom Waldyr. Deixar de melhorar o mundo por causa de nossas diferenças é desmerecer nossa humanidade, nossa civilidade. Nosso silêncio é ensurdecedor para os que estão caídos à beira do caminho sedentos por justiça.

Fraternidade Irmão Sol com Irmã Lua, Santa Rita/PB (2005)

Estamos unidos em favor da humanidade que sofre, pois isto é divino, apesar de toda diferença que possuímos, usamos do Anel de Tucum como um sinal desta unidade. Um anel preto feito da casca da semente do Tucumã, palmeira que possui espinhos enormes, própria da região Pan-Amazônica, utilizado incialmente por indígenas e negros - feitos escravos durante nosso período colonial-, como símbolo do compromisso entre si e suas causas socioambientais. Hoje, ele continua sendo usado entre católicos e não-católicos como sinal de aliança e responsabilidade. Lembremos sempre das palavras de Dom Pedro Casaldáliga, bispo emérito de São Félix do Araguaia: “Usar este anel compromete, viu?”.

Neste contexto de unidade na diversidade, de desafios e esperanças, encontramos situações que nos saltam aos olhos, como por exemplo: Amazônica e seus povos, os milhares de imigrantes, a população em situação de rua, os abandonados em hospitais, os desabrigados pelas enchentes, os que não possuem onde colocar a cabeça por não possuírem terra ou casa para morar, as mulheres assassinadas simplesmente por serem mulheres, os homoafetivos espancados por sua orientação sexual e muitas vezes empurrados para prostituição, os desempregados que não conseguem garantir o pão para suas famílias, a juventude negra exterminada nas comunidades periféricas. 

Enfim, é missão e é apostolado primário dos franciscanos e das franciscanas, bem como de toda humanidade que acredita em um mundo melhor, lutar juntamente aos excluídos e excluídas, “minorias” da humanidade que são consideradas por concepções modernas como população “sobrante” e não rendáveis, ou seja, que já não podem mais ser incluídas na economia vigente. 

Eis a missão de todos nós, para que todos tenham vida e vida em abundância (Jo 10, 10b). Deixemo-nos guiar pelo Espírito da Caridade e Verdade; Justiça, Paz e Integridade da Criação!

Mãos à obra!

Admara Titonelli e Helio Gouvêa, OFS

Fraternidade Santo Antônio dos Pobres - Volta Redonda/RJ


Francisco Araújo, OFS

Fraternidade São Francisco de Assis - Belém/PA