Extraído de: 
https://cffb.org.br/entrevista-a-prevencao-do-suicidio-e-o-dialogo-com-raquel-freitas-jufra/
 

Finalizamos o mês de setembro, chamado de "setembro amarelo" para a conscientização da prevenção ao suicídio, com a entrevista que nossa irmã Ana Raquel de Freitas Aleixo, Secretária de Formação do Regional Nordeste B1 PE/AL concedeu para a Conferência da Família Franciscana do Brasil. Raquel é psicóloga e com amor dedicou seu tempo para nos informar sobre o tema e alertar sobre como podemos agir como JUFRA e Família Franciscana. Muito orgulho dessa irmã que, como legítima franciscana secular, entregou seus dons para a vivência plena do Evangelho. Confira a entrevista: 

  1. O período pandêmico impactou diretamente as relações interpessoais. De um lado o isolamento social, de outro a ansiedade. Como ser presente e cuidar das pessoas que amamos nesse período?

Cuidar é um verbo, mas também é uma ação! A Pandemia trouxe a nós muitas consequências, alguns perderam empregos, perderam as pessoas que amavam e o isolamento social nos distanciou dos abraços calorosos e confortantes daqueles que amamos. Nesse período, é importante manter os laços afetivos, seja por uma ligação, chamada de vídeo, uma mensagem, através da demonstração de amor, carinho e afeto pelo outro. É preciso ser empático, e está pronto a ouvir essas pessoas de uma maneira dedicada, paciente, muito cuidadosa e sem julgamentos, para que elas se sintam amparadas e saibam que não estão sozinhas nesses momentos difíceis.

  1. Como surgiu e qual o público-alvo da Campanha Setembro Amarelo?

Setembro Amarelo é uma campanha de conscientização e sensibilização da população que traz discussões e debates muito importantes sobre o suicídio, ela vem para incentivar o diálogo, buscar e proporcionar espaço de apoio e oportunidades para as pessoas conversarem sobre o suicídio. No Brasil, a Campanha do Setembro Amarelo teve origem em 2015, tendo suas primeiras ações dirigidas pelo Centro de Valorização a Vida (CVV), Conselho Federal de Medicina (CFM) e Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). Ao longo do tempo, outros órgãos, como o Conselho Federal de Psicologia (CRP), foram unindo suas forças e participando dessa campanha.

O Suicídio é a expressão extrema do sofrimento humano e um problema de Saúde Publica Mundial. Segundo a OMS, por ano acontecem cerca de 700 mil mortes de suicídio e a sociedade responde a esses índices com o silêncio. Falar sobre esse tema ainda é um tabu. Mas quanto mais falarmos sobre suicídio, será possível amparar as pessoas que sofrem e encontrar soluções que minimizam esses altos índices. A pessoa que tenta o suicídio não quer se matar, quer apenas diminuir aquela dor.

  1. Para este ano, em meio a pandemia da COVID-19, a Campanha de Prevenção ao Suicídio propõe como tema Agir Salva Vidas! Poderia compartilhar conosco sobre os fatores de risco e sinais de alerta que podem auxiliar na prevenção?

É importante se pensar que a melhor maneira de prevenir o suicídio é promover a saúde mental. Por isso, o Setembro Amarelo, em especial, é um mês voltado para falar sobre a importância de cuidado da mente e evitar o pior. Não existe uma lista aparente que você possa prontamente dizer que através desses sinais a pessoa vai cometer suicídio, são os indicativos que você pode observar e juntar em um contexto. Mudança de comportamento repentino, mudanças de hábitos, isolamento familiar, apatia, mudanças drásticas no humor, sentimentos de cansaço, irritabilidade e, algumas vezes, o sono intercortado podem ser sinais de alerta.

Por isso, é preciso prestar atenção no comportamento dessas pessoas e, principalmente, na fala que muitas vezes vem carregada de reclamações, dificuldades de administrar a vida, do peso de muitas responsabilidades, da falta de saúde, e, pela falta de informação, muitas vezes nós acabamos não percebendo.

  1. No Brasil são mais de 12 mil mortes por suicídio por ano. Como a JUFRA, OFS, Vida Religiosa Consagrada e a população em geral podem contribuir para a prevenção ao suicídio, seja na fraternidade, na escola, na universidade, no trabalho e principalmente na família?

O suicídio é a 4° maior causa de morte entre os jovens de 14 a 29 anos. E, para que possamos ajudar nossa juventude e contribuirmos de forma eficaz com a diminuição do agravamento das estatísticas de suicídio, é importante antes de tudo não julgar e banalizar o sofrimento do outro. As pessoas que se mataram, frequentemente, avisaram em algum momento que não estavam dando conta.

Não é só a tristeza, tem pessoas que não se entristecem visivelmente, mas mesmo assim elas atentam contra a própria vida. Na nossa cultura nós não fomos ensinados a lidar com os sentimentos. Falar, perceber e conduzir os sentimentos é tido como fraqueza, e nós precisamos desmistificar isso e mostrar que falar é importante e ainda é a melhor forma de salvar vidas.

Por isso, enquanto Família Franciscana comprometida com a vida e com os nossos irmãos e irmãs, precisamos nos mobilizar, precisamos proporcionar espaços de acolhimento para esses jovens e dar abertura para se falar sobre esse assunto, pois, ao contrário do que muitos ainda imaginam, conversar sobre o tema não influencia o ato, mas sim, ajuda a dar suporte, atenção e orientação adequada. É importante ter empatia, estar aberto ao diálogo, observar os comportamentos fora do comum e oferecer apoio. O diálogo pode ajudar a expor sentimentos, muitas vezes angustiantes e nos dá a oportunidade de incentivar o jovem a buscar apoio profissional.

  1. A maioria dos casos de suicídio estão relacionados a transtornos mentais (depressão, transtorno bipolar e abuso de substâncias). Quais os serviços que estão disponíveis sejam a nível de Juventude Franciscana, sejam a nível social?

    Existem muitos canais, dentre eles tem o Centro de Valorização da Vida (CVV) que é um serviço de acolhimento terapêutico que realiza apoio emocional e prevenção ao suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo onde possuem pessoas treinadas para acolher, pelo telefone 188 e pelo site www.cvv.org.br. Vocês também poderão encontrar nas suas cidades clínicas sociais, serviços públicos municipais (CAPS), que tem uma rede que é preparada para atender as pessoas com sofrimento mental e devemos acionar canais para solucionar esse quadro.

  2. No mês vocacional também celebramos o dia da psicóloga, 27 de agosto. Como foi seu processo de encontro, formação e de atuação diante das diversas situações que a vida se encontra?

    “Encontrei o significado da minha vida, ajudando os outros a
    encontrarem o sentindo de suas vidas” (Viktor Frankl).

    A palavra vocação vem do latim vocare que significa chamado. Todos os dias somos convidados como cristão e como sociedade a servir e ajudar o nosso próximo, as pessoas que sofrem e precisam de nós! Essa frase de Viktor Frank descreve minha construção profissional. Ao longo das experiências vivenciadas, fui encontrando o sentindo da minha missão colocando o conhecimento da psicologia a serviço do outro e do irmão que sofre. Quando escolhi seguir essa profissão sabia do meu compromisso com o outro, da responsabilidade, do cuidado e da empatia. Entrar em contato com a vida e a fragilidade do paciente, é você se dedicar em ajudar o seu íntimo! Enquanto Profissionais de Psicologia, somos convidados a intervir não só no sofrimento de um indivíduo diretamente, mas sim intervir em toda a sociedade, convidando-os a recordar o seu ponto de partida e os lembrando que fomos criados por amor e para o amor!

REFERÊNCIAS

ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria). Suicídio Informando para prevenir. Brasília 2014. Disponível em: <https://www.setembroamarelo.com>.

APS/OMS. Uma em cada 100 mortes ocorre por suicídio, revelam estatísticas da OMS. Disponível em: <https://www.paho.org/pt/noticias/17-6-2021-uma-em-cada-100-mortes-ocorre-por-suicidio-revelam-estatisticas-da-oms>.

FRANKL, V. E. Em busca de sentido: um psicólogo no campo de concentração. Petrópolis: Vozes, 1991.