O desafio de construir uma sociedade, igreja e fraternidade inclusiva
“Temos o direito a sermos
iguais quando a diferença nos inferioriza; temos o direito a
sermos diferentes, quando a
igualdade nos descaracteriza.”
Boaventura de Souza Santos
A
sociedade está vivendo um momento de mudança de paradigma, onde se objetiva assegurar
melhores condições de vida para as pessoas com necessidades especiais. Neste
momento ocorrem pleno desenvolvimento e tentativa de aplicação dos princípios do
paradigma da inclusão, incluindo iniciativas como a obrigatoriedade dos
concursos públicos destinarem vagas para os deficientes, que representa uma forma
de agregá - los no espaço social, favorecendo a aceitação das diferenças
individuais diante da convivência da diversidade humana.
Em
várias instituições públicas e privadas é visível a mudança estrutural para
tornar o local acessível para os deficientes, porém o processo de inclusão vai
muito além da mudança do espaço físico. Implica tomar o outro como um ser humano
dotado de inteligência e sentimentos, de maneiras e tempos de se comunicar,
recursos para produzir experiências, emoções, com necessidade de está
participando ativamente na sociedade.
As
vicissitudes do mundo moderno exigem a afirmação da cidadania como direito
essencial manifestado no respeito à liberdade de iniciativa, participação,
criatividade, inovação, abertura religiosa, autoestima e reconhecimento da
singularidade de cada pessoa. As pessoas com necessidades especiais possuem
algum tipo de limitação, como todo ser humano, e são capazes de aprender,
trabalhar, ter amigos, construir uma família, superando seus próprios limites e
servindo de exemplo para toda a sociedade.
Por uma igreja acessível a
todos
Como você
pode amar a Deus que você não vê, se você não ama seu próximo a quem você vê, a
quem você toca, com quem você convive? E assim é muito importante para nós que entendamos
que para aquele amor ser verdade, tem que doer. Eu devo estar disposto a dar
tudo para não machucar outras pessoas e, de fato, fazer bem a elas. Isto requer
que eu esteja disposto a dar até que doa. Caso contrário, não há nenhum
verdadeiro amor em mim e eu trago injustiça, e não paz, para todos ao meu
redor. Ontem foi embora. Amanhã ainda não veio. Temos somente hoje, comecemos.
(Madre Tereza de calcutá)
O
desafio da igreja é acolher a todos para servir a Deus e para assumir
responsabilidades nos movimentos que a igreja agrega. Esta instituição também necessita se adequar
para acolher os deficientes, de modo que estes se sintam a vontade no espaço e
possam se sentir úteis na forma de ser “igreja”.
A
campanha da fraternidade de 2006 abordou o tema
"fraternidade e pessoas com deficiência” e como lema "Levanta-te, e vem para o
meio!". Foi um grande avanço da igreja católica, pois possibilitou a
sociedade conhecer melhor a realidade das pessoas com deficiência e refletir
sobre a situação à luz da ética cristã, propiciando maior igualdade,
dignidade e solidariedade em relação às pessoas com necessidades especiais.
De
acordo com o catecismo da igreja católica Deus dispôs amorosamente que
permanecesse íntegro e fosse transmitido a todas as gerações tudo quanto tinha
revelado para salvação de todos os povos. Por isso, Cristo Senhor, em quem toda
a revelação do Deus altíssimo se consuma (cfr. 2 Cor. 1,20; 3,16-4,6), mandou
aos Apóstolos que pregassem a todos, como fonte de toda a verdade salutar e de
toda a disciplina de costumes, o Evangelho prometido antes pelos profetas e por
Ele cumprido e promulgado pessoalmente, comunicando-lhes assim os dons divino.
E segundo constituição dogmática sobre a igreja, é pelo sacramento
do pão eucarístico, ao mesmo tempo é representada e se realiza a unidade dos
fiéis, que constituem um só corpo em Cristo (cfr. 1 Cor. 10,17). Todos os
homens são chamados a esta união com Cristo, luz do mundo, do qual vimos por
quem vivemos, e para o qual caminhamos.
Nesse
sentido, esses documentos evidenciam a importância de transmitir o evangelho a
todos, sem distinção, portanto os deficientes estão incluídos neste processo,
mas o desafio da igreja é preparar para receber este grupo de pessoas que
ficaram muito tempo a margem da sociedade. O interessante é ter pessoas; nas
missas, nos movimentos e encontros; que tenham curso de libras para traduzir as
falas durante as celebrações, que disponibilizem os textos escritos em braile
para que os deficientes visuais possam acompanhar as leituras litúrgicas e acessibilidade
para os cadeirantes circularem no espaço religioso. São aspectos básicos que
são essenciais para inclusão social.
O desafio da fraternidade local da juventude
franciscana
Como Jovens
Franciscanos, necessitamos estar onde a juventude se faz presente, nos servindo
de todos os meios disponíveis para visibilizar nossa opção de vida. Percebemos que é possível ser santo no mundo
de hoje, apesar de todos os nossos medos e contradições, porém com a certeza de
que muitos jovens, às vezes sem um sentido para sua vida, podem beber da espiritualidade
que temos a oferecer e encontrar em nosso carisma um luminoso ideal de vida. (Carta de Guaratinguetá: A jufra que queremos ser.)
Na
citação acima revela a necessidade da juventude franciscana estar inserida no
ambiente que os jovens frequentam. Há muitos jovens deficientes que vivem
isolados pelo simples fato das
pessoas desconhecerem como lidar com
eles, como ajudá-los Portanto, os jufristas devem ir ao encontro das pessoas
com necessidades especiais, com o intuito de conhecer as limitações que essas
pessoas apresentam e trabalharem para inserirem na espiritualidade franciscana
que segui os fundamentos do Cristo pobre, humilde e crucificado.
É
muito difícil encontrar deficientes físicos ou mentais nas fraternidades da
juventude franciscana, as pessoas com necessidades especiais precisam de
oportunidade e não de piedade e isolamento. Os deficientes desejam o
atendimento a suas necessidades de acordo com suas diferenças, mas não
tratamento igualitário, desconsiderando sua condição de existência. A
fraternidade tem que ajudar os deficientes se tornarem visíveis diante a
sociedade. Descartando, dessa forma, atitudes discriminatórias frente às
diferenças individuais
Na
fraternidade local da juventude Franciscana todos podem entrar e são
aceitos com suas peculiaridades. A Jufra deve facilitar a isenção dos
deficientes no ambiente dos encontros locais, oportunizando situações para que
estabeleçam relações, garantindo que o espaço seja organizado de forma que
garanta sua participação integral nas atividades da fraternidade. Na medida em
que surgem as dificuldades, a pessoa com ou sem deficiência tende a se sentir
desmotivada. Porém, a fraternidade local, bem formada e informada, é o alicerce
que a Jufra necessita para o deficiente não desistir do processo inclusivo. Procurando
assegurar a permanência do deficiente providenciando recursos para facilitar a
inclusão
A
missão das fraternidades é extinguir toda espécie de exclusão, discriminação,
rotulação de incapacidade e de abandono; eliminação do mito que os deficientes são
coitadinhos. Por isso é importante motivar a participação ativa dessas pessoas,
dessa forma, elas irão se sentir úteis. Dessa forma, a juventude Franciscana
local estará promovendo verdadeira atitudes coerentes com o ensinamento do
Evangelho de Jesus Cristos e dos ensinamentos de São Francisco de Assis. indo
ao encontro dos jovens que ainda estão a margem da sociedade.
Por tanto, realizar uma politica inclusiva na
igreja e na fraternidade local depende de uma prática continuada, reflexiva,
pois é o resultado do comprometimento, enquanto cristão e jufrista, que todos
se sintam inseridos no processo de evangelização e comunhão com cristo. É
inegável a importância da inserção do deficiente na igreja, porém é importante,
também, que esta instituição esteja preparada para receber este membro, para
ele não se sentir excluído do processo litúrgico. Essas pessoas necessitam de
oportunidade para ampliar suas aspirações, suas ações políticas e para professar a fé.
Autor: Gésus
de Almeida Trindade
Secretário
Fraterno Regional NEB4
Buscaglia,
l. Os deficientes e seus pai. Um desafio ao aconselhamento. Rio de Janeiro:
Record, 1993.
MIRANDA,
M. C. Os caminhos da cognição. Mentes7Cérebro, 3ed., São Paulo: Duetto.
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