É muito valioso que na busca por uma maior clareza e entendimento de um determinado assunto nos empenhemos em pesquisá-lo a partir de fontes seguras, que de fato nos remetam à raiz da problemática levada a exame.

            No estudo da espiritualidade franciscana, devemos nos debruçar sobre as Fontes Franciscanas que se constituem um seguro instrumento de compreensão das origens de nossa família espiritual e, ao mesmo tempo, de inspiração para a vivência radical de nosso carisma.

            No corpo das Fontes Franciscanas, temos como mais significativos e relevantes os escritos elaborados diretamente por Francisco de Assis, tais como suas orações, exortações, admoestações e, dentre outras textos, a Carta aos Fiéis.

            Partindo da análise desta epístola - que serve como prólogo para a Regra da Ordem Franciscana Secular -, é possível perceber que o Santo de Assis dá especial atenção aos leigos de seu tempo, resgatando o valor do laicato cristão e congregando todos os homens de boa vontade a viverem a radicalidade dos ensinamentos de Cristo contidos no livro do Evangelho.

            Vale destacar que o convite se encontra fundamentado no amor (dirigindo as primeiras palavras da carta a "todos os que amam o Senhor") e se concretiza na prática de uma vivência penitencial ("e fazem dignos frutos de penitência"), de tal modo que quem assim perseverar, segundo o santo, será feliz e terá sobre si o Espírito de Deus.

            Utilizando-se de uma linguagem fraterno-figurativa, Francisco exorta os fiéis leigos a serem "esposos, irmãos e mães de Nosso Senhor Jesus Cristo": esposos, quando a alma fiel está unida a Jesus pelo Espírito Santo; irmãos, quando fazemos a vontade do Pai; e mães, quando O trazemos em nosso coração, e em nosso corpo, e O damos à luz pelas obras que iluminam os nossos irmãos.  

            Evidentemente que a Carta aos Fiéis possui muitos outros temas que podem ser objeto de reflexão e estudo (e nem de longe é a pretensão deste artigo esgotar toda a riqueza da mensagem nela contida), mas é sempre louvável nos voltarmos à sua centralidade, consistente justamente na motivação pela vivência de um laicato maduro pautado na vida de penitência que deve orientar a vida dos franciscanos seculares.

            Da leitura da Carta é possível perceber que poucos tiveram a sensibilidade de compreender tão bem e profundamente a essência do Evangelho como São Francisco. Para ele, voltar-se ao Senhor e caminhar com Ele é colocar a santidade em prática, pois a Palavra de Nosso Senhor Jesus Cristo é "espírito e vida".

            Por isso é que ao final do escrito Francisco expõe, com todo amor paterno, que "ao conhecimento de todos quantos chegar esta carta, rogamos, por aquele amor que é Deus, que recebam benignamente estas palavras odoríferas de Nosso Senhor Jesus Cristo. E os que não sabem ler, façam-nas ler muitas vezes; e guardem-nas na memória, pondo-as santamente em prática até o fim, pois elas são espírito e vida."

            Nesse sentido, o nosso desafio é fazer chegar a mensagem evangélica transmitida na Carta aos Fiéis especialmente aos irmãos de nossa fraternidade franciscana.
           

            A riqueza deste escrito, inspirado no Evangelho, merece ser refletida e vivida por nós que optamos seguir o exemplo daquele que verdadeiramente compreendeu o Amor de Deus e fez dele o princípio da Vida e da Regra que firmamos. Por essa razão, devemos tê-la como luz em nossa caminhada a fim de que possamos também entender a essência do Evangelho, "amando o Senhor, de todo coração, de toda a alma e de toda a mente, com todas as suas forças e amam o seu próximo como a si mesmos.". 

                                                                            Ariana Baccin dos Santos
                                                Secretária Regional de Formação - Regional Sul 3