“Eis aí tua mãe!” – Mãe de Francisco, nossa mãe

       
     O franciscanismo – do qual nós, da JUFRA, somos a face jovem – sempre foi um terreno fértil no qual a devoção à Virgem Maria floresceu com rara beleza e rapidez.
Poucas décadas após a ressureição de Jesus, os primeiros cristãos fugiram à perseguição romana se escondendo no atual Egito, e fundaram as primeiras comunidades fora da região da Galiléia, onde Jesus viveu e pregou. De lá para cá, o Catolicismo estendeu-se por todo o mundo, e, apesar de inúmeras divergências e até cismas, a Virgem Maria continuou inextrincavelmente ligada à nossa fé.
O próprio São Francisco nutria especial devoção por Maria, a quem consagrou a Ordem, e via na Virgem seu modelo de pobreza. Mesmo tendo abandonado tudo que possuía, além de renunciar à própria herança, “não conseguia reprimir as lágrimas, ao pensar na extrema pobreza que padeceu nesse dia a Virgem Senhora pobrezinha. Uma vez, estando sentado à mesa a comer, e tendo um irmão recordado a pobreza da bem-aventurada Virgem e de seu Filho, imediatamente se levantou a chorar e a soluçar, e, com o rosto banhado em lágrimas, comeu o resto do pão sobre a terra nua”. (2Cel,  p. 168). Relembremos, aliás, que dogmas importantíssimos para o Catolicismo, como a Imaculada Conceição, já eram defendidos ardentemente por teólogos franciscanos, tal como São Boaventura, séculos antes de a Igreja proclamá-los oficialmnente!
Não se duvida que, embora seus pais tenham-no educado e criado no Cristianismo, Francisco muito evoluiu em sua vida interior amparando-se na Virgem Maria. E o próprio Pai Seráfico tinha plena consciência disso, conforme lhe foi revelado por visões e milagres: Nesse sentido, São Luis Maria Grignion de Montfort relata uma história medieval “em que se conta que o santo viu, em êxtase, uma escada enorme, em cujo topo, apoiado no céu, avultava a Santíssima Virgem. E o santo compreendeu que aquela escada ele devia subir para chegar ao céu”. (MONTFORT, p. 34, item 42).
Francisco exigia que os frades vivessem a pobreza, não apenas em honra a Jesus, que nasceu pobre em Belém, mas também à sua Santa Mãe. Disse ele a um frade, segundo Celano, que quando se vê um pobre, temos na frente um espelho do Senhor e de sua pobre Mãe (1Cel,  p. 86). É um privilégio especial nosso, franciscano, ter modelos tão importantes de virtudes como Il Povarello e a Virgem Maria.
Quando Jesus, prestes a morrer na cruz por amor a nós, disse a João “Eis aí tua mãe” (Jo 19:27) fez muito mais do que um simples gesto de piedade, pedindo-lhe que cuidasse de sua Mãe. Muito ao contrário: entregou a todas as gerações a virtude encarnada, a Virgem sem mancha do pecado original, como um porto seguro no qual podemos nos refugiar.
Sim, é verdade que a vida cristã – e muito especialmente o carisma franciscano – traz-nos muitas alegrias, mas também grandes dificuldades. Devemos lutar cotidianamente contra as tentações do mundo sem deixar o mundo – “do Evangelho à vida, e da vida ao Evangelho”, como já pregava Francisco. E absolutamente ninguém viveu com tanta coerência e firmeza essa mensagem quanto Maria Santíssima, a qual, carregando consigo a glória inexcedível de ser a mãe do próprio Deus, levou discretamente na Galiléa uma vida de amor (permaneceu aos pés da cruz sem se revoltar por um momento – Jo 19:25); trabalho (ajudou sua prima Isabel, grávida de João Batista, por quase três meses – Lc 1:56) e (não hesitou um momento em afirmar ao anjo, quando da Anunciação: “Eis aqui a serva do Senhor; cumpra-se em mim segundo a tua palavra –Lc 1:38). Não por acaso, são justamente esses os pilares sobre os quais Francisco quis assentar a Ordem dos Frades Menores.
Irmãs e irmãos, reflitamos e oremos sempre para que, por intercessão da Virgem Maria e São Francisco de Assis, estejamos cada vez mais próximos de Deus, tanto aqui na Terra como no céu.
Paz e bem!

          Aloysio Reynato Beiler – Formador Regional SE 2 RJ/ES

Referências

CELANO, Tomás. Segunda Vida de São Francisco. Disponível em . Acesso em 15/07/2016.

_________________. Primeira Vida de São Francisco. Disponível em  <http://www.clarissas.net.br/home/textosfontes/14092012100544_completas_saoFrancisco.pdf> Acesso em 15/07/2016.


MONTFORT, Luís Maria Grignion. Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem. S/ indicação da edição. Petrópolis: Vozes, 2016.