COM ISABEL DA HUNGRIA, PADROEIRA DA ORDEM FRANCISCANA SECULAR, CELEBREMOS O 1º DIA MUNDIAL DOS POBRES NÃO COM PALAVRAS, MAS COM OBRAS!
COM ISABEL DA HUNGRIA, PADROEIRA DA ORDEM FRANCISCANA
SECULAR,
CELEBREMOS O 1º DIA MUNDIAL DOS POBRES
NÃO COM PALAVRAS, MAS COM OBRAS!
INTRODUÇÃO
O Calendário Litúrgico de 2017 promove um
profético encontro entre a Festa
Litúrgica de Santa Isabel da Hungria, OFS, Franciscana Secular do Século
XIII que abraçou a Espiritualidade Franciscana como caminho de liberdade para
SERVIR e PARTILHAR com os últimos de seu tempo e o 33º Domingo do Tempo Comum que a partir deste ano, por convocação
do Papa Francisco, será o “Dia Mundial
dos Pobres”, oportunidade formativa,
de à luz do Evangelho e em fraternidade, irmos ao encontro daqueles que são os
preferidos de Deus. Por isso apresentamos a Juventude Franciscana do Brasil
esta Roteiro de Encontro que poderá ser vivenciado como Família Franciscana
(Frades, Congregações Femininas, OFS e JUFRA) para celebrar a festa de nossa
padroeira com uma vivência concreta, pois, como nos recorda o Papa Francisco: “Não amemos com palavras, nem com a boca,
mas com obras e com verdade!” (1 Jo 3, 18). Paz e Bem!
OBJETIVOS
o Celebrar em Fraternidade a Festa da Padroeira da Ordem Franciscana Secular, Santa Isabel da
Hungria (1207-1231);
o Abraçar, com toda a Igreja, o “Dia Mundial dos Pobres”, reafirmando o nosso comprometimento
assumido no Ideal Franciscano de Vida com a Opção Preferencial pelos Pobres nas
realidades de nossas fraternidades locais;
AMBIENTAÇÃO
Preparar
o ambiente de modo circular, tendo ao centro elementos de nossa Espiritualidade
(Imagem/Ícone de Santa Isabel, Livros da
OFS, Fontes Franciscana, Taus, Cruz de São Damião), trazer presente com
destaque a Iluminação Bíblica: “Não amemos com palavras, nem com a boca, mas
com obras e com verdade!” (1 Jo 3, 18), sementes variadas, tecidos, velas, como
convier na realidade da fraternidade.
Sugestão: Como Igreja em
Saída, este Encontro pode ser realizado ao ar-livre, em alguma ONG ou
Instituição Social, Casas de Recuperação, Asilos, Albergues, indo ao encontro
dos leprosos de nosso tempo, para rezar, celebrar e conviver
ACOLHIDA
Coordenador: O Dia Mundial dos
Pobres foi instituído por Francisco, na conclusão do Ano Santo
extraordinário da Misericórdia, com uma Carta Apostólica intitulada
“Misericórdia e mísera”. A celebração, ‘sinal concreto” do Ano Jubilar, se
realizará no XXXIII Domingo do Tempo Comum, que este ano cai em 19 de novembro.
Com a Festa Litúrgica, em 17 de Novembro, celebramos o carisma franciscano de Santa Isabel da Hungria, como imitação alegre e amorosa de Jesus “pobre,
desprezado e crucificado”, com uma característica pessoal irrepetível: a
extraordinária caridade para com o próximo. Seguindo o ensinamento de São
Francisco, Isabel, quando o marido ainda era vivo, tecia lã juntamente com as
servas para confeccionar roupas destinadas aos pobres.
Oração a Santa Isabel da Hungria
Ó Deus, que destes a Santa Isabel da
Hungria reconhecer e venerar o Cristo nos pobres, concedei-nos, por sua
intercessão, servir os pobres e aflitos com incansável caridade. Por nosso
Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.
VER
Coordenador: Queremos, neste
momento conhecer um pouco mais da história da Padroeira da Ordem Franciscana
Secular, Santa Isabel da Hungria, conhecendo seis aspectos de sua vida e que a fizeram nossa padroeira:
Leitor 1: O IDEAL FRANCISCANO
– Isabel (ou Elisabeth, em Alemão) nasceu na Hungria em 1207, filha do rei
André II e de Gertrudes de Merânia. Com a idade de quatro anos é enviada como
noiva do filho primogênito do conde Hermann I à corte da Turíngia - região
situada na extremidade sudoeste da Alemanha. Criada nessa atmosfera frívola e
casando-se com Luís aos quatorze anos, Isabel entra em contato com os primeiros
missionários franciscanos na Alemanha. No caso de Isabel não se pode falar de
“conversão” mas o que ela encontra no ideal franciscano é o enriquecimento e
aprofundamento de valores da fé. Os testemunhos de Francisco e Clara vão ao
encontro do desejo que Elisabeth sempre conservou em seu coração.
Leitor
2: NOBREZA DE SER E NÃO DE TER – Das fontes dos testemunhos de
personagens que passaram pela vida de Isabel, aflora uma figura de mulher
completa como moça, mãe e viúva consagrada ao serviço dos pobres e dos doentes,
rica de humanidade e com profunda vida interior. Seu ideal de santidade se
caracteriza pelo equilíbrio entre as obrigações às quais estava vinculada como
filha de rei e landgravina de um poderoso Estado e as práticas de uma vida
religiosa pobre e austera.
Leitor 3:
MULHER: Há nesta grande mulher uma
profunda humanidade, uma sensibilidade de seus atos e suas palavras além de uma
vontade de viver não para si, mas para os outros, que se traduz num amor sem
limites pelo marido, pelos filhos e a mesma delicadeza e atenção para com os
outros, especialmente os pobres e sofredores. Da classe nobre a que pertencia
tinha o porte senhoril e a disponibilidade de recursos, mas não a vaidade e
separação que costumeiramente criam distância e estabelecem submissão.
Leitor 4:
ESPOSA E MÃE: Aos quatorze anos
Isabel se torna finalmente esposa de Ludovico, tendo as bodas celebradas em
maio de 1221. Em setembro já esperava seu primogênito com tremor, mas também
com a máxima confiança em Deus. Não aproveitou de seu estado para entregar-se à
indolência e ao nada fazer. Ao contrário, sentia uma força nova que a
impulsionava a dedicar-se aos outros, particularmente às crianças mais pobres,
como se o instinto materno se dilatasse ao infinito. Em março, Isabel deu à luz
seu primeiro filho, Hermano.
Leitor 5: FRANCISCANA SECULAR:
Isabel era uma “religiosa” vivendo no mundo. O incentivo e o estímulo para esta
escolha foram essencialmente franciscanos, ou seja, o mesmo que tinha motivado
Francisco e Clara: a altíssima pobreza. Em 1228 faz um ato solene de
consagração, na forma mais estrita da sequela
Christi, que consistia em seguir o Cristo pobre e humilde, na capela de seu
castelo.
Leitor 6: OPÇÃO PREFERENCIAL PELOS POBRES: Os motivos que fizeram com que Isabel se dirigisse aos
leprosos foram os mesmos de Francisco. Antes de tudo, era uma escolha
teológica, cristocêntrica, decorrente do desejo de imitar Jesus Cristo em tudo.
Nos irmãos atingidos pelo terrível mal ela via a imagem do Salvador atingido
pelos pecados do mundo. Não podemos esquecer alguma coisa que em Isabel era
muito forte: a participação humana nos sofrimentos dos outros.
ILUMINAR
Iluminação Bíblica 1 João 3, 16-19
Leitura da Primeira Carta de São João. Conhecemos o amor nisto: que ele deu a sua vida por nós, e
nós devemos dar a vida pelos irmãos. Quem, pois, tiver bens do mundo, e, vendo
o seu irmão necessitado, lhe cerrar as suas entranhas, como estará nele o amor
de Deus? Meus filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas por obra e
em verdade. E nisto conhecemos que somos da verdade, e diante dele
asseguraremos nossos corações. Palavra
do Senhor.
Coordenador: Deixemos que Palavra de Deus ecoe em nosso coração e
produza verdadeiros frutos de conversão. Por isso, podemos de modo silencioso,
retornar a leitura e refletir sobre os nossos irmãos marginalizados: Rostos de
Deus no mundo.
(Momento de Meditação da Palavra de Deus,
por isso, é importante conduzir e propor uma pequena partilha, com as palavras
que mais tocam cada irmão. Sugerimos encerrar este momento com a música a
seguir.)
REFLEXÃO – SEU NOME É JESUS CRISTO (Pe.
André Luna)
Seu
nome é Jesus Cristo e passa fome
E
grita pela boca dos famintos
E a
gente quando vê passa adiante
Às
vezes pra chegar depressa a igreja
Seu
nome é Jesus Cristo e está sem casa
E
dorme pelas beiras das calçadas
E a
gente quando vê aperta o passo
E
diz que ele dormiu embriagado
Entre nós está e não O conhecemos
Entre nós está e nós O desprezamos
Seu
nome é Jesus Cristo e é analfabeto
E
vive mendigando um subemprego
E a
gente quando vê, diz: "é um à toa
Melhor
que trabalhasse e não pedisse"
Seu
nome é Jesus Cristo e está banido
Das
rodas sociais e das igrejas
Porque
d'Ele fizeram um Rei potente
Enquanto
Ele vive como um pobre
Entre nós está e não O conhecemos
Entre nós está e nós O desprezamos
Seu
nome é Jesus Cristo e está doente
E
vive atrás das grades da cadeia
E
nós tão raramente vamos vê-lo
Dizemos
que ele é um marginal
Seu
nome é Jesus Cristo e anda sedento
Por
um mundo de Amor e de Justiça
Mas
logo que contesta pela Paz
A
ordem o obriga a ser de guerra
Entre nós está e não O conhecemos
Entre nós está e nós O desprezamos
Seu
nome é Jesus Cristo e é difamado
E
vive nos imundos meretrícios
Mas
muitos o expulsam da cidade
Com
medo de estender a mão a ele
Seu
nome é Jesus Cristo e é todo homem
E
vive neste mundo ou quer viver
Pois
pra Ele não existem mais fronteiras
Só
quer fazer de todos nós irmãos
Entre nós está e não O conhecemos
Entre nós está e nós O desprezamos
AGIR
Coordenador: Recentes estudos dão conta de que no Brasil a pobreza
continua enorme e tende a crescer. A classe A da população, 3,8% dos
brasileiros com renda familiar mensal superior a R$ 17.286, detém 38% da renda
global do país; enquanto isso, as classes D e E, que somam 54,3% da população
mais pobre e tem renda mensal familiar abaixo de R$ 2.302, detém apenas 16,3%
da renda global (revista Veja, 5/7, página 66). A concentração da renda é fator
de perenização da pobreza no Brasil. Vejamos o que diz o Papa Francisco sobre a
Pobreza Contemporânea: “Ela é difusa e onipresente, aparecendo nos rostos
marcados pelo sofrimento, a marginalização, a opressão, a violência, as
torturas, a prisão, as guerras, a privação da liberdade e da dignidade, a
ignorância e o analfabetismo, a falta de saúde e de assistência sanitária, a
falta de trabalho, o tráfico de pessoas, as escravidões, as migrações forçadas.
São homens, mulheres e crianças explorados por interesses vis, espezinhados
pelas lógicas perversas do poder e do dinheiro. O elenco constrangedor dos
pobres é impiedoso e nunca completo, fruto de injustiça social, da corrupção,
da miséria moral, da avidez de poucos e da indiferença generalizada”. O que,
como Franciscanos e Franciscanas, temos feito? Como temos agido?
(Propomos neste momento uma “Tempestade de
Ideias” a partir de GESTOS CONCRETOS
que a Fraternidade deverá assumir a partir deste encontro e da Celebração do
Dia Mundial dos Pobres. Certamente, duas ou três ações são suficientes para que
toda a fraternidade possa assumir e realizar, integrando vivência e testemunho,
palavras e vida.)
CELEBRAR
Coordenador: Uma certa vez, Santa Isabel, tendo tomado conhecimento de
um mendigo enfermo de aspecto horrendo, que sofria de dificuldades mentais,
tomou-o escondidamente, cortou-lhe os cabelos, mantendo-o amorosamente
reclinado junto de seu seio. Depois de tê-lo lavado, deixou-o escondido num canto
do jardim para evitar os olhares curiosos dos outros. Foi, no entanto,
descoberta e repreendida. Justificou-se, mostrando o mais belo sorriso. Em
todas as obras de misericórdia, chamava atenção de modo particular o sorriso
sincero que enfeitava perenemente seu rosto. Estamos diante de uma mulher em
que santidade e feminilidade se unem harmoniosamente, evidenciando uma simbiose
perfeita entre natureza e graça.
(Neste
momento, aquele que conduz convida alguma irmão da OFS que entregará para cada
irmão presente um pouco de sementes, representando o compromisso a ser assumido
nesta Festa)
ENTREGA DAS SEMENTES – O MEU REINO (Frei
Fabretti)
1 -
O meu Reino tem muito a dizer,
não
se faz como quem procurou,
aumentar
os celeiros bem mais e sorriu.
Insensato,
que vale tais bens,
se
hoje mesmo terás o teu fim?
Que
tesouros tu tens pra levar além.
Sim Senhor, nossas mãos vão plantar o teu
reino. O teu pão vai nos dar teu vigor, tua paz.
2 -
O meu reino se faz bem assim:
Se
uma ceia quiseres propor,
não
convide amigos, irmãos e outros mais.
Sai
à rua a procura de quem
não
puder recompensa te dar,
que
o teu gesto lembrado será por Deus.
3 -
O meu reino quem vai compreender?
Não
se perde na pressa que tem,
sacerdote
e levita que vão se cuidar.
Mas,
se mostra em quem não se contém,
se
aproxima e procura o melhor
para
o irmão agredido que viu o chão.
4 -
O meu reino não pode aceitar,
quem
se julga maior que ops demais
por
cumprir os preceitos da lei, um a um
a
humilde de quem vai além
e se
empenha e procura o perdão,
é o
terreno onde pode brotar a paz.
5 -
O meu reino é um apelo que vem,
transformar
as razões do viver,
que
te faz desatar tantos nós que ainda tens.
Dizer
sim é saberes repor
tudo
quanto prejuizo causou,
dar
as mãos , repartir, acolher, servir!
MOTIVAÇÃO FINAL
Coordenador: Na Mensagem para o Dia Mundial dos Pobres, o Papa
Francisco nos ensina: “Não esqueçamos
que, para os discípulos de Cristo, a pobreza é, antes de mais, uma vocação a
seguir Jesus pobre. É um caminho atrás d’Ele e com Ele: um caminho que conduz à
bem-aventurança do Reino dos céus (cf. Mt 5, 3; Lc 6, 20). Pobreza significa um
coração humilde, que sabe acolher a sua condição de criatura limitada e
pecadora, vencendo a tentação de omnipotência que cria em nós a ilusão de ser
imortal. A pobreza é uma atitude do coração que impede de conceber como
objetivo de vida e condição para a felicidade o dinheiro, a carreira e o luxo.
Mais, é a pobreza que cria as condições para assumir livremente as
responsabilidades pessoais e sociais, não obstante as próprias limitações,
confiando na proximidade de Deus e vivendo apoiados pela sua graça. Assim
entendida, a pobreza é o metro que permite avaliar o uso correto dos bens
materiais e também viver de modo não egoísta nem possessivo os laços e os
afetos (cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 25-45). Assumamos, pois, o exemplo de São Francisco, testemunha da pobreza
genuína. Ele, precisamente por ter os olhos fixos em Cristo, soube reconhecê-Lo
e servi-Lo nos pobres. Por conseguinte, se desejamos dar o nosso contributo
eficaz para a mudança da história, gerando verdadeiro desenvolvimento, é
necessário escutar o grito dos pobres e comprometermo-nos a erguê-los do seu
estado de marginalização. Ao mesmo tempo recordo, aos pobres que vivem nas
nossas cidades e nas nossas comunidades, para não perderem o sentido da pobreza
evangélica que trazem impresso na sua vida”. Por isso, queremos encerrar
este encontro com a Benção. Nosso
desejo e compromisso não é de sermos abençoados por Deus, pois isso já somos a
todo tempo, mas de nós mesmos sermos a Benção de Deus aos Pobres de nosso tempo
e acolhê-los também nós somos abençoados, e fazer o Reino acontecer.
ANEXO
MENSAGEM DO SANTO PADRE FRANCISCO PARA O I DIA MUNDIAL DOS
POBRES
XXXIII DOMINGO DO TEMPO COMUM
(19 DE NOVEMBRO DE 2017)
«Não amemos com palavras, mas com obras»
1. «Meus filhinhos, não amemos com
palavras nem com a boca, mas com obras e com verdade» (1 Jo 3, 18). Estas
palavras do apóstolo João exprimem um imperativo de que nenhum cristão pode
prescindir. A importância do mandamento de Jesus, transmitido pelo «discípulo
amado» até aos nossos dias, aparece ainda mais acentuada ao contrapor as
palavras vazias, que frequentemente se encontram na nossa boca, às obras
concretas, as únicas capazes de medir verdadeiramente o que valemos. O amor não
admite álibis: quem pretende amar como Jesus amou, deve assumir o seu exemplo,
sobretudo quando somos chamados a amar os pobres. Aliás, é bem conhecida a
forma de amar do Filho de Deus, e João recorda-a com clareza. Assenta sobre
duas colunas mestras: o primeiro a amar foi Deus (cf. 1 Jo 4, 10.19); e amou
dando-Se totalmente, incluindo a própria vida (cf. 1 Jo 3, 16).Um amor assim
não pode ficar sem resposta. Apesar de ser dado de maneira unilateral, isto é,
sem pedir nada em troca, ele abrasa de tal forma o coração, que toda e qualquer
pessoa se sente levada a retribuí-lo não obstante as suas limitações e pecados.
Isto é possível, se a graça de Deus, a sua caridade misericordiosa, for
acolhida no nosso coração a pontos de mover a nossa vontade e os nossos afetos
para o amor ao próprio Deus e ao próximo. Deste modo a misericórdia, que brota
por assim dizer do coração da Trindade, pode chegar a pôr em movimento a nossa
vida e gerar compaixão e obras de misericórdia em prol dos irmãos e irmãs que
se encontram em necessidade.
2. «Quando um pobre invoca o Senhor, Ele
atende-o» (Sl 34/33, 7). A Igreja compreendeu, desde sempre, a importância de
tal invocação. Possuímos um grande testemunho já nas primeiras páginas do Atos
dos Apóstolos, quando Pedro pede para se escolher sete homens «cheios do
Espírito e de sabedoria» (6, 3), que assumam o serviço de assistência aos
pobres. Este é, sem dúvida, um dos primeiros sinais com que a comunidade cristã
se apresentou no palco do mundo: o serviço aos mais pobres. Tudo isto foi
possível, por ela ter compreendido que a vida dos discípulos de Jesus se devia
exprimir numa fraternidade e numa solidariedade tais, que correspondesse ao
ensinamento principal do Mestre que tinha proclamado os pobres bem-aventurados
e herdeiros do Reino dos céus (cf. Mt 5, 3).
«Vendiam terras e outros bens e distribuíam
o dinheiro por todos, de acordo com as necessidades de cada um» (At 2, 45).
Esta frase mostra, com clareza, como estava viva nos primeiros cristãos tal
preocupação. O evangelista Lucas – o autor sagrado que deu mais espaço à
misericórdia do que qualquer outro – não está a fazer retórica, quando descreve
a prática da partilha na primeira comunidade. Antes pelo contrário, com a sua
narração, pretende falar aos fiéis de todas as gerações (e, por conseguinte,
também à nossa), procurando sustentá-los no seu testemunho e incentivá-los à
ação concreta a favor dos mais necessitados. E o mesmo ensinamento é dado, com
igual convicção, pelo apóstolo Tiago, usando expressões fortes e incisivas na
sua Carta: «Ouvi, meus amados irmãos: porventura não escolheu Deus os pobres
segundo o mundo para serem ricos na fé e herdeiros do Reino que prometeu aos
que O amam? Mas vós desonrais o pobre. Porventura não são os ricos que vos
oprimem e vos arrastam aos tribunais? (…) De que aproveita, irmãos, que alguém
diga que tem fé, se não tiver obras de fé? Acaso essa fé poderá salvá-lo? Se um
irmão ou uma irmã estiverem nus e precisarem de alimento quotidiano, e um de
vós lhes disser: “Ide em paz, tratai de vos aquecer e matar a fome”, mas não
lhes dais o que é necessário ao corpo, de que lhes aproveitará? Assim também a
fé: se ela não tiver obras, está completamente morta» (2, 5-6.14-17).
3. Contudo, houve momentos em que os
cristãos não escutaram profundamente este apelo, deixando-se contagiar pela
mentalidade mundana. Mas o Espírito Santo não deixou de os chamar a manterem o
olhar fixo no essencial. Com efeito, fez surgir homens e mulheres que, de
vários modos, ofereceram a sua vida ao serviço dos pobres. Nestes dois mil
anos, quantas páginas de história foram escritas por cristãos que, com toda a
simplicidade e humildade, serviram os seus irmãos mais pobres, animados por uma
generosa fantasia da caridade!
Dentre todos, destaca-se o exemplo de
Francisco de Assis, que foi seguido por tantos outros homens e mulheres santos,
ao longo dos séculos. Não se contentou com abraçar e dar esmola aos leprosos,
mas decidiu ir a Gúbio para estar junto com eles. Ele mesmo identificou neste
encontro a viragem da sua conversão: «Quando estava nos meus pecados,
parecia-me deveras insuportável ver os leprosos. E o próprio Senhor levou-me
para o meio deles e usei de misericórdia para com eles. E, ao afastar-me deles,
aquilo que antes me parecia amargo converteu-se para mim em doçura da alma e do
corpo» (Test 1-3: FF 110). Este testemunho mostra a força transformadora da
caridade e o estilo de vida dos cristãos.
Não pensemos nos pobres apenas como
destinatários duma boa obra de voluntariado, que se pratica uma vez por semana,
ou, menos ainda, de gestos improvisados de boa vontade para pôr a consciência
em paz. Estas experiências, embora válidas e úteis a fim de sensibilizar para
as necessidades de tantos irmãos e para as injustiças que frequentemente são a
sua causa, deveriam abrir a um verdadeiro encontro com os pobres e dar lugar a
uma partilha que se torne estilo de vida. Na verdade, a oração, o caminho do
discipulado e a conversão encontram, na caridade que se torna partilha, a prova
da sua autenticidade evangélica. E deste modo de viver derivam alegria e
serenidade de espírito, porque se toca com as mãos a carne de Cristo. Se
realmente queremos encontrar Cristo, é preciso que toquemos o seu corpo no
corpo chagado dos pobres, como resposta à comunhão sacramental recebida na
Eucaristia. O Corpo de Cristo, partido na sagrada liturgia, deixa-se encontrar
pela caridade partilhada no rosto e na pessoa dos irmãos e irmãs mais frágeis.
Continuam a ressoar de grande atualidade estas palavras do santo bispo
Crisóstomo: «Queres honrar o corpo de Cristo? Não permitas que seja desprezado
nos seus membros, isto é, nos pobres que não têm que vestir, nem O honres aqui
no tempo com vestes de seda, enquanto lá fora O abandonas ao frio e à nudez»
(Hom. in Matthaeum, 50, 3: PG 58).
Portanto somos chamados a estender a mão
aos pobres, a encontrá-los, fixá-los nos olhos, abraçá-los, para lhes fazer
sentir o calor do amor que rompe o círculo da solidão. A sua mão estendida para
nós é também um convite a sairmos das nossas certezas e comodidades e a
reconhecermos o valor que a pobreza encerra em si mesma.
4. Não esqueçamos que, para os discípulos
de Cristo, a pobreza é, antes de mais, uma vocação a seguir Jesus pobre. É um
caminho atrás d’Ele e com Ele: um caminho que conduz à bem-aventurança do Reino
dos céus (cf. Mt 5, 3; Lc 6, 20). Pobreza significa um coração humilde, que
sabe acolher a sua condição de criatura limitada e pecadora, vencendo a
tentação de omnipotência que cria em nós a ilusão de ser imortal. A pobreza é
uma atitude do coração que impede de conceber como objetivo de vida e condição
para a felicidade o dinheiro, a carreira e o luxo. Mais, é a pobreza que cria
as condições para assumir livremente as responsabilidades pessoais e sociais,
não obstante as próprias limitações, confiando na proximidade de Deus e vivendo
apoiados pela sua graça. Assim entendida, a pobreza é o metro que permite
avaliar o uso correto dos bens materiais e também viver de modo não egoísta nem
possessivo os laços e os afetos (cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 25-45).
Assumamos, pois, o exemplo de São
Francisco, testemunha da pobreza genuína. Ele, precisamente por ter os olhos
fixos em Cristo, soube reconhecê-Lo e servi-Lo nos pobres. Por conseguinte, se
desejamos dar o nosso contributo eficaz para a mudança da história, gerando
verdadeiro desenvolvimento, é necessário escutar o grito dos pobres e
comprometermo-nos a erguê-los do seu estado de marginalização. Ao mesmo tempo
recordo, aos pobres que vivem nas nossas cidades e nas nossas comunidades, para
não perderem o sentido da pobreza evangélica que trazem impresso na sua vida.
5. Conhecemos a grande dificuldade que há,
no mundo contemporâneo, de poder identificar claramente a pobreza. E todavia
esta interpela-nos todos os dias com os seus inúmeros rostos marcados pelo
sofrimento, pela marginalização, pela opressão, pela violência, pelas torturas
e a prisão, pela guerra, pela privação da liberdade e da dignidade, pela
ignorância e pelo analfabetismo, pela emergência sanitária e pela falta de
trabalho, pelo tráfico de pessoas e pela escravidão, pelo exílio e a miséria,
pela migração forçada. A pobreza tem o rosto de mulheres, homens e crianças
explorados para vis interesses, espezinhados pelas lógicas perversas do poder e
do dinheiro. Como é impiedoso e nunca completo o elenco que se é constrangido a
elaborar à vista da pobreza, fruto da injustiça social, da miséria moral, da
avidez de poucos e da indiferença generalizada!
Infelizmente, nos nossos dias, enquanto
sobressai cada vez mais a riqueza descarada que se acumula nas mãos de poucos
privilegiados, frequentemente acompanhada pela ilegalidade e a exploração
ofensiva da dignidade humana, causa escândalo a extensão da pobreza a grandes
sectores da sociedade no mundo inteiro. Perante este cenário, não se pode
permanecer inerte e, menos ainda, resignado. À pobreza que inibe o espírito de
iniciativa de tantos jovens, impedindo-os de encontrar um trabalho, à pobreza
que anestesia o sentido de responsabilidade, induzindo a preferir a abdicação e
a busca de favoritismos, à pobreza que envenena os poços da participação e
restringe os espaços do profissionalismo, humilhando assim o mérito de quem
trabalha e produz: a tudo isso é preciso responder com uma nova visão da vida e
da sociedade.
Todos estes pobres – como gostava de dizer
o Beato Paulo VI – pertencem à Igreja por «direito evangélico» (Discurso de
abertura na II Sessão do Concílio Ecuménico Vaticano II, 29/IX/1963) e obrigam
à opção fundamental por eles. Por isso, benditas as mãos que se abrem para
acolher os pobres e socorrê-los: são mãos que levam esperança. Benditas as mãos
que superam toda a barreira de cultura, religião e nacionalidade, derramando
óleo de consolação nas chagas da humanidade. Benditas as mãos que se abrem sem
pedir nada em troca, sem «se» nem «mas», nem «talvez»: são mãos que fazem
descer sobre os irmãos a bênção de Deus.
6. No termo do Jubileu da Misericórdia,
quis oferecer à Igreja o Dia Mundial dos Pobres, para que as comunidades
cristãs se tornem, em todo o mundo, cada vez mais e melhor sinal concreto da
caridade de Cristo pelos últimos e os mais carenciados. Quero que, aos outros Dias
Mundiais instituídos pelos meus Predecessores e sendo já tradição na vida das
nossas comunidades, se acrescente este, que completa o conjunto de tais Dias
com um elemento requintadamente evangélico, isto é, a predileção de Jesus pelos
pobres.
Convido a Igreja inteira e os homens e
mulheres de boa vontade a fixar o olhar, neste dia, em todos aqueles que
estendem as suas mãos invocando ajuda e pedindo a nossa solidariedade. São
nossos irmãos e irmãs, criados e amados pelo único Pai celeste. Este Dia pretende
estimular, em primeiro lugar, os crentes, para que reajam à cultura do descarte
e do desperdício, assumindo a cultura do encontro. Ao mesmo tempo, o convite é
dirigido a todos, independentemente da sua pertença religiosa, para que se
abram à partilha com os pobres em todas as formas de solidariedade, como sinal
concreto de fraternidade. Deus criou o céu e a terra para todos; foram os
homens que, infelizmente, ergueram fronteiras, muros e recintos, traindo o dom
originário destinado à humanidade sem qualquer exclusão.
7. Desejo que, na semana anterior ao Dia
Mundial dos Pobres – que este ano será no dia 19 de novembro, XXXIII domingo do
Tempo Comum –, as comunidades cristãs se empenhem na criação de muitos momentos
de encontro e amizade, de solidariedade e ajuda concreta. Poderão ainda
convidar os pobres e os voluntários para participarem, juntos, na Eucaristia
deste domingo, de modo que, no domingo seguinte, a celebração da Solenidade de
Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo resulte ainda mais autêntica. Na
verdade, a realeza de Cristo aparece em todo o seu significado precisamente no
Gólgota, quando o Inocente, pregado na cruz, pobre, nu e privado de tudo,
encarna e revela a plenitude do amor de Deus. O seu completo abandono ao Pai,
ao mesmo tempo que exprime a sua pobreza total, torna evidente a força deste
Amor, que O ressuscita para uma vida nova no dia de Páscoa.
Neste domingo, se viverem no nosso bairro
pobres que buscam proteção e ajuda, aproximemo-nos deles: será um momento
propício para encontrar o Deus que buscamos. Como ensina a Sagrada Escritura
(cf. Gn 18, 3-5; Heb 13, 2), acolhamo-los como hóspedes privilegiados à nossa
mesa; poderão ser mestres, que nos ajudam a viver de maneira mais coerente a
fé. Com a sua confiança e a disponibilidade para aceitar ajuda, mostram-nos, de
forma sóbria e muitas vezes feliz, como é decisivo vivermos do essencial e
abandonarmo-nos à providência do Pai.
8. Na base das múltiplas iniciativas
concretas que se poderão realizar neste Dia, esteja sempre a oração. Não
esqueçamos que o Pai Nosso é a oração dos pobres. De facto, o pedido do pão
exprime o abandono a Deus nas necessidades primárias da nossa vida. Tudo o que
Jesus nos ensinou com esta oração exprime e recolhe o grito de quem sofre pela
precariedade da existência e a falta do necessário. Aos discípulos que Lhe
pediam para os ensinar a rezar, Jesus respondeu com as palavras dos pobres que
se dirigem ao único Pai, em quem todos se reconhecem como irmãos. O Pai Nosso é
uma oração que se exprime no plural: o pão que se pede é «nosso», e isto
implica partilha, comparticipação e responsabilidade comum. Nesta oração, todos
reconhecemos a exigência de superar qualquer forma de egoísmo, para termos
acesso à alegria do acolhimento recíproco.
9. Aos irmãos bispos, aos sacerdotes, aos
diáconos – que, por vocação, têm a missão de apoiar os pobres –, às pessoas
consagradas, às associações, aos movimentos e ao vasto mundo do voluntariado,
peço que se comprometam para que, com este Dia Mundial dos Pobres, se instaure
uma tradição que seja contribuição concreta para a evangelização no mundo
contemporâneo.
Que este novo Dia Mundial se torne, pois,
um forte apelo à nossa consciência crente, para ficarmos cada vez mais
convictos de que partilhar com os pobres permite-nos compreender o Evangelho na
sua verdade mais profunda. Os pobres não são um problema: são um recurso de que
lançar mão para acolher e viver a essência do Evangelho.
Vaticano, Memória de Santo António de
Lisboa, 13 de junho de 2017.
Franciscus
Vinícius Fabreau
Secretário Regional de Formação (Sudeste 3- SP)
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