Deus-Comunidade: a Sagrada Família de Nazaré
ilustração de @pax.valerie
Deus-Comunidade: a Sagrada Família de Nazaré
No
domingo seguinte ao Natal a Igreja lembra da Sagrada Família – Jesus, Maria e
José – para nos apresentar e evidenciar a dimensão comunitária da face humana
de Deus. No Evangelho, recordamos a ida de Jesus menino ao templo e o encontro
com José e Maria que, na angústia de perder o próprio filho, quando o encontram
exclamam o sofrimento de estar à procura. Jesus, ao responder, indaga o porquê
de estarem O procurando se estava na casa do Pai.
Em
tempos de conflitos políticos que inundam o Brasil e acirram inclusive as
relações familiares, a resposta de Jesus abraça todas/os as/os jovens que se
sentem por vezes não acolhidas/os ou compreendidas/os nos próprios núcleos
familiares. A fala do Menino-Deus nos presenteia com o afago de lembrar que
Deus é comunidade. Que no serviço, na doação, na entrega às construções de um
mundo de paz, justiça e fraternidade, podemos nos encontrar com o Sublime Amor
e fazer a experiência do acolhimento, do pertencimento.
São
Francisco de Assis admirava tanto o nascimento de Deus em forma humana que, em
1223, na cidade de Greccio, fez questão de reviver esse momento e representar o
primeiro presépio de que se tem conhecimento. O acolhimento fraterno ao Menino,
como compreendeu Francisco, não foi apenas humano. Foi de toda a Criação que,
ao redor da manjedoura, louvou com animais, plantas, estrelas a chegada do
Deus-Menino, do Altíssimo que por tanto amor quis se fazer Comunidade.
A
dimensão comunitária do encontro com Deus nos abraça quando, de forma tão
expressa que beira à ludicidade, reproduz esse momento profundo de encontro
humanitário com o Menino ao meio. É Cristo, mesmo, quem deve estar no centro. E
ao redor, todas e todos nós, junto da Criação, na harmonia que Deus quer quando
escolhe se fazer Comunidade.
Na
incompreensão e nas divergências que por vezes saltam nas relações,
principalmente quando em contato com a irreverência e coragem da juventude, a
Comunidade é também resposta, da mesma forma que foi resposta para Maria e José
no templo. No encontro, na fraternidade, na partilha é que nos fazemos irmãs e
irmãos, superando o individualismo que tanto denuncia o Papa Francisco, para
compreender que a individualidade nem sempre vai nos acolher, mas a comunidade
é sempre sinal de pertencimento.
A
família é sempre retrato da comunidade, por isso com amor deve ser sempre
zelada. Mas a fraternidade é também berço da comunidade. A Criação da mesma
forma expressa o amor do Deus-comunidade. Em qualquer uma dessas faces podemos
encontrar o carinho e o cuidado do Altíssimo que, podendo se fazer representar
de qualquer maneira, quis se fazer bebê, menino, frágil.
Que
essa fragilidade nos impulsione a compreender a grandiosidade do pertencimento:
à família, à fraternidade e à Criação. E o impulso da Sagrada Família nos
permita aceitar as singularidades para entender que o alento vem sempre do
Deus-Comunidade, aquele que quis se fazer menor e nos ensina o acolhimento
irrestrito, o cuidado indizível e a supremacia do amor.
Gabriela Consolaro Nabozny, JUFRA
Secretária Nacional de Formação (2019-2023)
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