PRESÉPIO DE GRECCIO: 800 ANOS DA LIÇÃO DE FRANCISCO DE ASSIS SOBRE O AMOR DE DEUS À HUMANIDADE
O
Natal era uma época especial para São Francisco de Assis, um momento em que a celebração da humildade e do
nascimento de Jesus ganhava um significado profundo e verdadeiro. Sua abordagem única para as festividades natalinas
refletia seu compromisso com a simplicidade, a compaixão e a alegria nata com o Menino
de Belém, o Deus encarnado na natureza humano e também de natureza
divino.
São Francisco
acreditava que o Natal deveria ser uma celebração de amor e humildade, refletindo a simplicidade do nascimento de Jesus em Belém. Em suas próprias
palavras, ele dizia:
“Quero celebrar a memória daquele
menino que nasceu
em Belém (cf.
Mt 2,1.2) e ver de algum modo com os olhos corporais os apuros e
necessidades da infância dele, como foi reclinado no presépio (cf. Lc 2,7) e como,
estando presentes o boi e o burro, foi colocado sobre o feno.” (I CELANO
XXX - 84, 8)
Durante o Natal, São Francisco costumava se
envolver em atos de caridade e generosidade, buscando
compartilhar a alegria
do espírito natalino
com os menos afortunados. Ele valorizava a compaixão e a partilha,
vendo o Natal como uma oportunidade
de reforçar esses princípios fundamentais do cristianismo. Mais uma vez, Frei Tomas de Celano, hagiógrafo da vida
do Seráfico Pai, escreveu sobre “A devoção que
Francisco tinha para com o Natal do Senhor e de como ele queria que todos
fossem ajudados em suas necessidades.”
Vejamos como nos relata
Frei Tomas:
“Francisco queria
que no dia do Natal do Senhor os pobres e famintos fossem saciados (cf. 1Sm 2,5) pelos ricos e que
aos bois e aos burros fossem concedidos ração e feno mais do que de costume. Disse: "Se eu pudesse falar
com o imperador, pediria que se fizesse
uma lei geral para que, todos aqueles que podem, atirem
pelas ruas trigo e grãos,
a fim de que, no dia de tão grande
solenidade, os pássaros
tenham fartura, principalmente as irmãs cotovias.
Recordava,
não sem lágrimas, de quanta penúria a Virgem
pobrezinha fora circundada naquele dia. Num dia, ao
sentar-se para o almoço, um irmão lembra-lhe a
pobreza da bem-aventurada Virgem e traz à memória
a indigência de Cristo, o filho dela.
Imediatamente, ele se levanta
da mesa (cf. 1Sm 20,24),
solta soluços dolorosos
e, banhado em lágrimas, come o resto do pão sobre a
terra nua. Perguntando-lhe os irmãos qual virtude tornava
alguém mais amigo de Cristo,
ele respondia, como que abrindo
o segredo de seu coração: “Sabei, filhos, que a
pobreza é o caminho especial da salvação (cf. At 16,17) e que o múltiplo
fruto dela [só] é bem conhecido por poucos.” (II CELANO CLI
-
200, 1-8)
Uma das histórias
mais conhecidas sobre o Natal de São Francisco é relacionada ao vilarejo de Greccio, situado na região
do Lácio a 96km de Roma, na Itália. Lá, foi onde,
em 1223, ele organizou o primeiro presépio vivo. São Francisco queria criar uma representação visual e viva do nascimento de Jesus para ajudar as pessoas a compreenderem
melhor o significado do Natal. Tomás de Celano, descreve esse evento da seguinte maneira:
“De Greccio se fez
como que uma nova Belém. Ilumina-se a noite como dia (cf. S1 138,12) e torna-se deliciosa para os
homens e animais. As pessoas chegam ao novo mistério e alegram-se com novas alegrias. O bosque faz ressoar as vozes, e as rochas
respondem
aos que se rejubilam. Os irmãos cantam, rendendo os devidos louvores ao Senhor, e toda a noite dança de júbilo. O
santo de Deus, Francisco, está de pé diante do
presépio, cheio de suspiros, contrito de piedade e transbordante de
admirável alegria. Celebra-se a
solenidade da missa sobre o presépio, e o sacerdote frui nova consolação.” (I CELANO XXX -
85, 5-11)
Essa representação viva do presépio,
tornou-se uma tradição
duradoura e influenciou as celebrações natalinas
em todo o mundo. No dia 1º de dezembro
de 2019, o Papa Francisco visitou o Santuário
Franciscano de Greccio. Na gruta do Santuário,
assinou a Carta Apostólica Admirabile Signum (Sinal Admirável) que fala sobre o significado
e o valor do presépio. Na meditação, aí proferida, o Papa Francisco ressaltou que “neste sinal simples e admirável do
presépio, que a piedade popular acolheu e transmitiu
de geração em geração, manifesta-se o grande mistério da nossa fé: Deus nos ama a tal ponto de compartilhar a nossa
humanidade e a nossa vida. Somos chamados a cumprir e, antes de tudo, redescobrir a simplicidade do presépio”.
Nesta ocasião,
escreveu o Papa Francisco:
“A mente leva-nos a
Greccio, no Vale de Rieti; aqui se deteve São Francisco, provavelmente quando vinha de Roma onde recebera, do Papa
Honório III, a aprovação da sua Regra em 29 de novembro de 1223. Aquelas
grutas, depois da sua
viagem à Terra Santa,
faziam-lhe lembrar de modo particular a paisagem de Belém […]. Em Greccio, naquela ocasião, não havia figuras; o
Presépio foi formado e vivido pelos que estavam presentes. Assim nasce a nossa tradição […]. Com a simplicidade
daquele sinal, São Francisco realizou
uma grande obra de evangelização. O seu ensinamento penetrou no coração dos cristãos, permanecendo até aos
nossos dias como uma forma genuína de repropor, com simplicidade, a beleza da nossa fé.” (Papa Francisco, Admirabile Signum, 2. 3)
Nestes próximos anos (2023-2026), nós Família Franciscana estaremos em júbilo,
pois celebraremos vários centenários Franciscanos, a saber: os 800 anos da Regra
Bulada e o Natal de Greccio (2023),
os Estigmas do Seráfico Pai Francisco (2024),
o Cântico das Criaturas
(2025) e, no seu auge, a Páscoa de Francisco (2026). É “um Centenário articulado e celebrado em vários centenários.”
Estas celebrações dos centenários tem fundamentalmente o propósito e a finalidade de orientar, decisivamente, o nosso olhar para o futuro e reforçar carismaticamente a nossa identidade franciscana. E neste final de ano de 2023, comemoramos, o Centenário do Presépio de
Greccio que a 800 anos atrás o Poverello de
Assis quis tanto celebrar.
Francisco de
Assis foi quem criou pela primeira vez o Presépio Vivo. Segundo a tradição, a primeira representação
visualizada, teatralizada e celebrada de um presépio aconteceu no ano de 1223, num bosque próximo de Greccio na
úmbria, região italiana. Quem tomou
esta iniciativa foi São Francisco de Assis e com isso ele passa a ser o primeiro
a organizar, de um modo plástico, a cena da encarnação do filho de Deus.
Não é de se discutir se o fato é verídico ou legendário, pois Francisco de Assis foi um
apaixonado pelo modo como Deus fez morada no mundo dos homens e, certamente mais do que palavras, quis mostrar o maior
evento de todos os tempos: na carne de um menino, Deus está sempre presente no meio de nós.
Nos presépios temos harmonia das diferenças:
o mundo do Divino encontra-se com o mundo dos homens.
A grandeza, a onipotência de um Deus revela-se na fragilidade de uma criança.
Ali, no presépio, o mundo animal e também o mundo mineral
são
abraçados
pelo silêncio Divino. Há também o toque brilhante daquela Estrela guia aproximando o mundo sideral.
No presépio cabe
todos os rostos, é o grande encontro dos simples, dos normais dos marginais, dos ternos, fraternos, sofridos e excluídos. Quando o diferente
se encontra, temos a mais bela paisagem do mundo,
tudo se torna transparente na unidade das diferenças.
No presépio não existe preconceito, existe, sim, aquela silenciosa e calma contemplação da beleza de cada um, de cada
uma. Encarnar-se é morar junto, é respeitar
o diferente. Paz na Terra aos humanos de boa vontade, isso é o que
encantou Francisco de Assis: “O amor tem
que ser amado!”
A verdade e a beleza
tem que ser apreciados, este é o lugar de luz no meio das sombras, a luz vale mais do que todas as
trevas. Deus está ali com você e com Francisco
de Assis diante do presente e abraçando você com silêncio, paz, harmonia
e serenidade, acolhendo você e passando-lhe onipresença, onipotência eterna para fragilidade da criatura. No presépio Deus olha você, pessoa humana contemplando a Suprema humildade da pessoa divina.
Precisamos sempre nos recordar
dessa grande acontecimento, onde nosso próprio
Deus se faz humano num pequenino e frágil Menino
de Belém em situações difíceis. Isso precisa ser
sempre uma das motivações para que outras coisas, até mesmo o comércio, não tomem
conta de vez do verdadeiro e principal motivo e sentido de festejar o Natal.
Ofereçamos, além de nossos
Presépios físicos, nossos
corações como manjedoura para bem acolher nosso Irmão maior. Que louvores e cantos
tradicionais de Natal que, enchem
nossos corações de alegrias e desejos, sejam cada vez mais impulsionados pela nossa fé e devoção, não como um mero
tradicionalismo, mas como uma tradiçaõ para bem celebrarmos e com muito júbilo o Natal do Menino Jesus, o “Deus conosco Emanuel”. E de modo especial, que a
Iluminação Franciscana, destacada nos escritos
sobre a vida de São Francisco, sejam sempre nosso tesouro oferecido e
propagado por nós mesmos, herança que
Francisco nos deixou e nos legou. Por fim, especialmente, no centro
de nossa vidas,
nós tenhamos o Evangelho, fonte
e medula de nossas vidas, forma e regra dos franciscanos e franciscanas, possa ser animada
para uma reflexão
comunitária e partilha de experiências de vidas.
Desejo que tenham
uma excelente experiência celebrativa e afetiva onde a lição de pobreza do presépio de Francisco surge
como uma reflexão franciscana do Natal do Senhor,
que o Deus que se rebaixa e se encarna por mim e por você, porque Ele nos ama e nos
quer muito bem. Bons festejos
e um
excelente Natal.
Paz e Bem!
Uberaba, 01 de dezembro de 2023
Frei Suelton Costa de Oliveira, OFM
Assistente Nacional
da JUFRA do Brasil
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