O ROSTO FEMININO DE DEUS EM FRANCISCO
“E, onde quer que estejam e se encontrarem os irmãos, 7bmostrem-se afáveis entre si. E, com confiança, um manifeste ao outro suas necessidades, porque, se a mãe nutre e ama seu filho (cfr. 1Ts 2,7) carnal , com quanto maior diligência deve cada um amar e nutrir seu irmão espiritual? E, se algum deles cair doente, os outros irmãos devem servi-lo, como gostariam de ser servidos(cfr. Mt 7,12). ”. Regra Bulada 6, 7-9
Esse trecho encontra-se no Capítulo VI da Regra Bulada da Ordem dos Frades Menores e é todo dedicado ao tema da fraternidade e ao cuidado que se se deve ter com ela. O interessante é que a fraternidade é o tema central da Regra de Francisco e, por isso, alguns historiadores a consideraram uma das mais importantes da Regra, ainda mais porque nela podemos perceber como em Francisco se mostra esse rosto feminino e materno de Deus, expresso através do cuidado!
A familiaridade – ou afabilidade – que Francisco recomenda aos seus irmãos aparece nesse trecho da Regra como uma espécie de critério geral, no trato para com a Fraternidade.
Mostrem-se afáveis entre si: Este verbo manifesta a transparência e a espontaneidade que deveria reinar nas relações entre os frades. São relações concebidas em termos de familiaridade. A figura da família inspirou frequentemente a Francisco a expor as suas ideias sobre fraternidade. E aqui, de modo particular, é a figura da mãe que mais transparece e nos salta aos olhos: aquela que ama e cuida é apresentada como referência de gestos e atitudes. A própria experiência que Francisco fez com sua mãe foi de um profundo sentir-se cuidado e apoiado por ela, principalmente quando a relação com seu pai se mostrou mais ainda permeada de incompreensões e desentendimentos.
E, com confiança, um manifeste ao outro suas necessidades…: quer dizer, em primeiro lugar, abrir o próprio coração ao irmão sem temor, com a segurança de não ser traído. Quando se abre o coração para manifestar a própria necessidade, a confiança toca as fibras mais sensíveis da própria intimidade, porque se recorre ao irmão na condição de indigente e se coloca em evidência os próprios limites e fraquezas.
Porque, se a mãe nutre e ama seu filho carnal, com quanto maior diligência deve cada um amar e nutrir seu irmão espiritual?: Neste trecho Francisco faz uma comparação com a mãe e usa dos verbos nutrir (de caráter humano) que, acompanhado do vocábulo mãe, ganha uma grande força afetiva; neste contexto a Regra enfatiza o “nutrir” numa dimensão material do afeto, isto é, o cuidado do corpo. O outro verbo é amar que está relacionado com a diligência e não com preferências.
Nosso Pai Francisco, ao apresentar o amor e o cuidado da mãe como modelo de agir para com os irmãos, quebra certos paradigmas de sua época, caracterizada por ser uma sociedade e uma Igreja marcadamente patriarcais, em que o masculino se sobrepunha ao feminino, e a figura do pai era a referência primeira, na estrutura familiar. Com isso, Francisco nos apresenta um novo paradigma, o do amor-cuidado que traz o feminino para o centro, revalorizando-o e integrando-o ao masculino, sem, no entanto, negá-lo. Nessa experiência de síntese, podemos assim dizer, Francisco revela o rosto feminino de Deus, em quem a Fraternidade se fundamenta e encontra sua razão de ser e existir, centrada no Evangelho do Filho!
Olhemos, portanto, para Francisco como aquele que tão bem soube integrar em sua vivência e testemunho de fraternidade a acolhida dos traços paternos e maternos de Deus. E nestes dias, de modo particular, lembremos de nossas mães, elevando a Deus uma prece por todas elas!!!
Que elas sejam para nós exemplo de cuidado e proteção! E sejam também e ao mesmo tempo cuidadas e protegidas por Deus!
Que a Virgem Maria, a “Virgem feita Igreja”, também interceda por cada uma delas e por todos nós, para que sejamos na fraternidade e para o mundo, sinais desse amor que Francisco nos pede e que ela tão bem soube devotar no cuidado para com o Seu Filho!
A todos e todas, “bebendo das Fontes”, queremos deixar o nosso abraço fraterno. E nossa saudação de paz e bem!
Fonte: Uribe, Fernando. La Regola di San Francesco: lettera e Spirito. Edizioni Dehoniane. Bologna, 2011. Págs. 193-203.
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